Via blog do Noblat
28.04.2012
Blog de José Roberto de Toledo
A cada novo “grampo” vazado da Operação Monte Carlo se aprende um pouco mais
sobre o funcionamento da República. Sabe-se, por exemplo, que o senador
Demóstenes Torres (ex-DEM) era um ágil despachante dos interesses do empresário
preso Carlinhos Cachoeira: pedia favores, cobrava contrapartidas, intercedia
junto a agentes públicos.
Tudo em nome do amigo com quem manteve mais de 300 conversas telefônicas em
curto período de tempo.
Aprende-se também que para ser nomeado para um cargo público de chefia no
governo de Minas Gerais (e em Goiás, em Brasília etc) não é preciso nem
currículo. Basta uma sequência de telefonemas entre poderosos e seus cupinxas e
o emprego se materializa com rapidez de corar burocrata.
Mônica Vieira liga para o primo Carlinhos Cachoeira, que liga para o amigo
Demóstenes Torres, que liga para o colega de Senado Aécio Neves, que obtém o
aval do governador Antonio Anastasia para o secretário de Governo de Minas
Gerais ligar para Mônica comunicando sua nomeação.
O ciclo se fecha com 4 graus de separação, ou melhor, de conhecimento. Na
contabilidade do repórter Fausto Macedo, bastaram 12 dias e 7 telefonemas.
Se todo brasileiro desfrutasse de tanta presteza e gentileza do poder público
o Brasil não seria o Brasil.
Mônica disse à reportagem do Estado que foi nomeada para ser chefe regional
da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas por sua
“competência”, por seus 25 anos de carreira. Pode ser, mas quem apadrinhou sua
nomeação não sabia disso.
Aécio perdera o currículo de Mônica. Foi o que Demóstenes relatou a
Cachoeira, em telefonema na noite de 20 de maio do ano passado.
Aos repórteres, o senador tucano disse desconhecer a origem do pedido de
nomeação. Mesmo sabendo muito pouco ou quase nada, passou-o à frente. Talvez
retribuísse algo, ou quisesse ficar com crédito junto a Demóstenes, contra quem
até então “não recaía questionamento”, nas escolhidas palavras de Aécio.
Patrocinador da nomeação de Mônica, Cachoeira não enfatiza as qualidades
profissionais da prima ao despachar com o amigo Demóstenes. O apelo é pessoal:
“É importantíssimo pra mim. Você consegue por ela lá com o Aécio (…). Pô, a mãe
dela morreu. É irmã da minha mãe”.
Só se preocupam com o salário, que não pode ser menos do que R$ 10 mil - “se
não estou perdida”, na expressão de Mônica.
E quem não estaria? Uns 190 milhões de brasileiros.
Leia a íntegra em Grampos ensinam como a República funciona
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