Via Agência Brasil
Por Thais Leitão
02.06.2012
Rio de Janeiro - O Brasil está muito atrasado em relação a outros países
quando o assunto é implementação de políticas de regulação no campo da
publicidade infantil. A avaliação é da professora do Programa de Pós-Graduação
em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Inês Vitorino, que
coordena o grupo de pesquisa da relação infância, adolescência e mídia da
instituição.
A especialista, que também é doutora em ciências sociais pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), acredita que é preciso haver maior reflexão e
mobilização da sociedade brasileira para exigir leis que protejam crianças e
adolescentes dos “efeitos nocivos” que o marketing direcionado a eles
tem. “As propagandas voltadas para crianças são em geral abusivas porque
utilizam estratégias de persuasão que elas não são capazes de identificar, então
estão sendo enganadas”, disse.
Inês Vitorino acredita que o Brasil deve seguir o exemplo de países que
adotaram modelos que proíbem a publicidade infantil ou regulamentam a atividade
de forma específica. “Na Alemanha, por exemplo, toda a publicidade é dirigida
aos pais e nos horários infantis não há qualquer publicidade. Na província do
Québec, no Canadá, e na Suécia, a publicidade infantil é inteiramente proibida.
São países de tradição democrática, mas optaram por esse caminho com base no
princípio norteador que a criança até 7 ou 8 anos não tem sequer a clareza do
conteúdo persuasivo. Ela assiste à publicidade e não tem compreensão de que ali
há uma oferta de venda”, explicou.
A especialista ressaltou, ainda, que por meio da publicidade são apresentados
conceitos e valores, como níveis de competitividade e desqualificação de pessoas
pela falta de posse de determinados produtos, com os quais a criança não está
preparada para lidar. “Sem maturidade para lidar com esse tipo de situação, a
criança sofre problemas de autoestima e conflitos familiares, porque ela passa a
pedir aos pais coisas que muitos deles não têm condições de comprar”,
ressaltou.
A professora da UFC citou ainda outra situação considerada por ela um
problema familiar, que é a influência de crianças e adolescentes nas compras da
casa. De acordo com ela, dados colhidos por um instituto de pesquisa brasileiro,
em 2007, constataram que, no Brasil, 45% de crianças e adolescentes entre 8 e 14
anos opinam sobre a compra de carros pela família, 60% influem sobre a aquisição
de celulares e 61% sobre a de computadores. Em consequência, a consultoria
concluiu que 80% das marcas devem incluir o público formado por crianças e
adolescentes nas suas estratégias de marketing. Continua