Via ecopolítica
Por Sérgio Abranches
21.09.2012
Política de transportes no Brasil vai na contramão do mundo. Custo do transporte público aumenta mais que a inflação e preço dos carros individuais e da gasolina sobe abaixo da inflação. Ainda por cima governo dá incentivo às montadoras para fazer o que não passa de obrigação: aumentar a economia de combustíveis e as emissões de seus carros, que são mais econômicos e menos poluentes no EUA e na Europa.
O IPEA, uma agência criada para subsidiar as políticas públicas com estudos, analisa os gastos das famílias com transportes e detecta essas contradições. Quem faz a política de transportes não deve ler os relatórios do IPEA, nem examinar os mesmos dados – produzidos pelo governo (IBGE) – para tomar suas decisões. Além de andar na contramão do mundo, o governo mantém suas agências de costas umas para as outras, desperdiçando recursos e inteligência e errando na formulação das políticas.
O governo fechou acordo com as montadoras para reduzir o custo final dos veículos, diminuindo o IPI, o Imposto sobre Produtos Industriais. A condição é que os carros consumam menos combustível e poluam menos. Vai dar incentivo para o que não passa de obrigação das montadoras. Um mesmo modelo de carro aqui no Brasil consome de duas a três vezes mais que esse modelo na Europa ou nos Estados Unidos, onde os padrões de eficiência energética são mais exigidos e as normas são cumpridas. Aqui se dá incentivo com dinheiro público paras as empresas fazerem o dever de casa, o feijão com arroz, a obrigação mínima. Quem pensou essa política seguramente não leu o relatório do IPEA o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do próprio governo federal. Esse estudo mostra que, em matéria de transportes, o Brasil anda na contramão do mundo.
Aumentou a renda e caíram os custos do transporte privado, principalmente o preço dos veículos e da gasolina, ao mesmo tempo em que as tarifas de transporte público ficaram mais caras em termos reais, foi o que o IPEA observou comparando as Pesquisas de Orçamentos Familiares entre 2003 e 2009, que mede os gastos das famílias com diversos itens não só para retratar o consumo corrente, mas para subsidiar o peso relativo dos diferentes itens de consumo na inflação. O efeito desse ganho de renda e do encarecimento do transporte público, com barateamento do transporte privado é que a população usa cada vez menos transporte público e mais transporte individual. Caiu o gasto médio das famílias brasileiras com o transporte público. Ou seja, mais carro nas ruas, mais congestionamento, embora não diminuam os ônibus que, durante parte do dia trafegam com baixa lotação, poluindo mais por passageiro. CONTINUA!