Via blog do Noblat
Por Dora Kramer, o Estado de São Paulo
03.10.2012
Depois de anos de elogios ao cinismo, de celebração da baixa esperteza e do
rebaixamento da ética à categoria das irrelevâncias, voltamos a falar de valores
na dimensão do valor que de fato têm.
A impressão que dá é que ministros do Supremo Tribunal Federal estavam com o
tema entalado na garganta, à espera do melhor momento para desabafar.
Assim, a cada dia, a cada sessão de julgamento do processo do mensalão,
sucedem-se, em forma de votos, lições sobre a distinção entre o certo e o
errado.
Uma questão aparentemente simples, cuja abordagem fica complicada em ambiente
onde viceja com sucesso a cultura da transgressão.
O que seria normal tornou-se excepcional. A regra virou exceção. Quem reclama
é mal intencionado ou desavisado sobre a impossibilidade de o Brasil andar nos
trilhos da lei.
Na sessão de segunda-feira, o decano da Corte, Celso de Mello, deu uma aula
magna sobre o direito de todo cidadão de contar com "administradores íntegros,
parlamentares probos e juízes incorruptíveis".
Um voto em feitio manual de instrução contra a venalidade e a delinquência
como modos de operação do poder público.
Pontuou com clareza meridiana o mal que a corrupção faz ao Estado de direito,
resgatou o sentido do memorável discurso de Marco Aurélio Mello quando assumiu a
presidência do Tribunal Superior Eleitoral em 2006.
Marco Aurélio foi o primeiro a apontar com contundência o processo de
degradação de princípios baseada nas conveniências políticas de um governo.
"A rotina de desfaçatez e indignidade parece não ter limites, levando os já
conformados cidadãos brasileiros a uma apatia cada vez mais surpreendente, como
se tudo fosse muito natural e devesse ser assim mesmo; como se todos os homens
públicos, em diferentes épocas, fossem e tivessem sido igualmente desonestos,
numa mistura indistinta de escárnio e afronta, e o erro do passado justificasse
os erros do presente", avisou.
À época falou praticamente sozinho, no diapasão dos votos vencidos que
costumam lhe render acusações de que contraria o senso comum por puro
estrelismo.
Leia a íntegra em Manual de instrução