Via Agência Brasil
12.02.2013
Brasília – O governo do Brasil vai intensificar a campanha de combate ao
tráfico de pessoas, ampliando o serviço de atendimento às denúncias sobre esse
mercado. Para obter resultados, a ministra da Secretaria de Políticas para as
Mulheres, Eleonora Menicucci, faz um apelo, em entrevista à Agência
Brasil: “A primeira coisa a fazer é denunciar e não ter medo. Ser
traficada, ser violentada, não é vergonha para ninguém. Podem ter certeza, o
governo brasileiro está do lado das mulheres e vítimas. O governo não aceita
mais conviver com o tráfico”.
A ministra lembrou que o tráfico envolve não só mulheres, mas crianças e
homossexuais. “Denunciar vale para todos. A pessoa não pode ser discriminada nem
excluída por causa de sua escolha sexual. Falo isso de alma e coração. O governo
não aceita conviver com a homofobia nem com a lesbofobia. Somos todos
brasileiros. É uma diretriz de governo, uma posição e uma convicção”, ressaltou.
A seguir, os principais trechos da entrevista da ministra:
Agência Brasil – O aumento das discussões sobre o tráfico de
mulheres é provocado pela elevação de casos nos últimos
meses?
Eleonora Menicucci – Não. Isso não significa que
aumentou, mas, sim, que o assunto saiu do esconderijo e só sai de baixo do
tapete quando há um governo determinado a resolver a questão. A presidenta Dilma
Rousseff é obcecada pelo tema do enfrentamento à violência e ao tráfico de
pessoas e por isso há uma política de governo neste sentido. No que se refere ao
tráfico de pessoas, historicamente as crianças e as mulheres são as principais
vítimas.
Agência Brasil – Há uma razão para que mulheres e crianças
sejam as principais vítimas do tráfico de pessoas?
Eleonora Menicucci
– As crianças, porque indefesas, e as mulheres porque ainda predomina o
sistema do patriarcado, no qual elas são traficadas para fins de negócios e de
mercado. As mulheres são objeto de negócios, no caso, do [mercado de] sexo. O
que não tem relação alguma com prostituição, é preciso fazer essa distinção.
Agência Brasil – Qual a diferença entre tráfico de pessoas
para fins de exploração sexual e prostituição?
Eleonora
Menicucci – A mulher quando é traficada, o objetivo é que outros ganhem
dinheiro [à custa dela]. Isso é crime. A prostituição, a pessoa faz programas
sexuais para viver – ou não, mas de alguma maneira é [uma iniciativa]
espontânea.
Agência Brasil – Há mais de um ano participando da campanha
de combate ao tráfico de pessoas, o que a senhora recomenda para as famílias das
vítimas e até mesmo para quem foi aliciado?
Eleonora
Menicucci – Antes de tudo, a primeira coisa é denunciar e não ter medo.
Ser traficada, ser violentada não é vergonha para ninguém. Podem ter certeza, o
governo brasileiro está do lado das mulheres e vítimas. O governo não aceita
mais conviver com o tráfico. Quem fazia isso [traficar pessoas] era a
escravidão. Estamos empenhados em acabar com os resquícios da escravidão.
Agência Brasil – Homossexuais e transexuais também são
vítimas das redes de tráfico de pessoas. O governo observa
isso?
Eleonora Menicucci – Denunciar vale para todos. A
pessoa não pode ser discriminada nem excluída por causa de sua escolha sexual.
Falo isso de alma e coração. O governo não aceita conviver com a homofobia nem
com a lesbofobia. Somos todos brasileiros. É uma diretriz de governo, uma
posição e uma convicção.
Agência Brasil – O governo concentrou-se no combate às redes
de tráfico de pessoas em Portugal, na Espanha e na Itália. Há pretensões de
ampliar a campanha para outros países?
Eleonora Menicucci –
Sim. Queremos ampliar ainda este ano.Vários acertos estão sendo feitos. Mas é um
processo. Esses países [Portugal, Espanha e Itália] foram escolhidos devido à
facilidade de tráfico existente nessas regiões. Além disso, a crise econômica
[internacional] acabou aumentando a ação dos traficantes e o idioma [próximo ao
português falado no Brasil] também ajuda. Mas há também casos [em investigação]
em El Salvador, na França, em Luxemburgo e na Suíça.
Agência Brasil – Para a senhora, a atuação da CPI do Tráfico
de Pessoas vai colaborar com a campanha nacional?
Eleonora
Menicucci – Acho extraordinário [o trabalho] da CPI. É uma proposta que
vem somar ao enfrentamento ao tráfico de pessoas. Sem dúvida, agrega e
sensibiliza a atuação do Congresso.
Agência Brasil – O tráfico existe de uma forma geral,
então?
Eleonora Menicucci – O tráfico existe dentro do
próprio país. No Sul, no Sudeste, no Centro-Oeste, no Nordeste e no Norte. Outro
dia desbarataram uma casa em São Paulo e foram encontradas meninas de 12
anos.
Agência Brasil – O traficante tem um
perfil?
Eleonora Menicucci – Os envolvidos com o tráfico são
pessoas do círculo de conhecimento da vítima, que vigiam a rotina dela. Em
geral, os traficantes fiscalizam e acompanham a rotina da vítima, depois partem
para o assédio. Em Salamanca [Espanha], por exemplo, eles observavam a rotina
das mulheres na academia de ginástica. Mas também é bastante frequente fazer
isso em bares.
Agência Brasil – A estratégia de assédio é, em geral, a
mesma?
Eleonora Menicucci – As mulheres são seduzidas com a
promessa de uma vida melhor, de trabalho com carteira assinada e de forma mais
digna. [Em geral], são mulheres pobres, mas há também casos de classe média.
Todas têm sonhos de melhorar de vida. Não quer dizer que só as mulheres pobres
são vulneráveis. São mulheres bonitas, jovens e promissoras.
Agência Brasil – Quando desembarcam no país prometido, a
realidade é totalmente diferente da informada nos primeiros
contatos...
Eleonora Menicucci – As mulheres ganham as passagens e
as promessas são as mais variadas. Quando chegam [ao país prometido], os
documentos são retirados e são informadas que têm dívidas. Houve uma jovem que a
dívida dela era de mais de 5 mil euros [mais de R$15 mil]. [Essas mulheres] são
confinadas em condições desumanas e sem alimentação. As quadrilhas as mantêm em
lugares do tipo boate e não saem para nada. [Também] são obrigadas a ter relação
[sexual] o tempo todo.
Edição: José Romildo