Via Jornal Nacional
25.03.2013
Segundo testemunhas, ela desligava os aparelhos de pacientes em estado grave. O auditor também afirmou que pode chegar a 300 o número de mortes.
O auditor do Ministério da Saúde
que investiga as mortes em uma UTI de Curitiba suspeita que a médica Virgínia
Soares de Souza tenha agido com o conhecimento da direção do hospital. Segundo
testemunhas, ela desligava os aparelhos de pacientes em estado grave. O auditor
também afirmou que pode chegar a 300 o número de mortes.
Os auditores estão analisando centenas de prontuários de pacientes que
morreram na UTI do Hospital Evangélico de Curitiba entre 2006 e 2013. A médica
Virgínia Soares de Souza, que comandava o setor, é acusada de sete homicídios.
Outros sete funcionários também respondem ao processo. Na semana passada, a
polícia abriu um novo inquérito para investigar mais 20 mortes consideradas
suspeitas. Só que o médico que coordena a auditoria, Mário Lobato da Costa, diz
que já separou um total de 300 prontuários que considera suspeitos.
"O que era praticado era antecipação de óbito, um eufemismo para crime",
disse o auditor do Ministério da Saúde.
Segundo o auditor, a médica Virgínia agia com o conhecimento da diretoria do
hospital. Ele cita o trecho de uma gravação telefônica, feita com autorização da
justiça, em que um diretor conversa com a médica, que foi acusada, por
testemunhas, de desligar os aparelhos respiradores de pacientes.
“Ela disse, ‘estou desligando a neném, e não estou conseguindo porque a
família não concordou’. E ela é textual. Ela disse que iria desligar e a família
não queria.”
Neste domingo, o Fantástico mostrou o prontuário de um dos pacientes que
morreram na UTI: Ivo Sptizner. Ele passou a receber o limite mínimo de oxigênio.
Depois, foi aplicado um medicamento que faz os músculos pararem. O auditor diz
que essa combinação matou vários pacientes. "Todos eles, o mesmo modus operandi,
têm a mesma relação entre a droga e o óbito, o horário bate."
O auditor revelou que foi pressionado a não ampliar as investigações: "Existe
uma pressão velada porque isso, de uma forma ou de outra, atinge todas as UTIs,
não só de Curitiba. Todo mundo vai ter que dar uma resposta sobre o que está
acontecendo dentro das UTIs."
Mas ele preferiu não dizer quem fez essas pressões. "Não posso te dizer de
onde partem. É um lugar bem insuspeito, mas houve a tentativa", afirmou.
Nesta segunda, o Ministério Público entrou com um novo pedido de prisão de
Virgínia Soares de Souza, que teve a prisão preventiva revogada na última
quarta-feira. Segundo os promotores, em liberdade, a médica poderia exercer
pressão sobre as testemunhas. Os promotores também informaram que vão investigar
o possível envolvimento da diretoria do Hospital Evangélico de Curitiba.
Os integrantes da diretoria do Hospital Evangélico de Curitiba foram
substituídos na semana passada. Nem os ex-diretores, nem os atuais quiseram se
pronunciar. O advogado de Virgínia Soares de Souza afirma que não há provas
contra a médica, e que ela permanece em casa, sem oferecer qualquer risco para a
investigação.
Veja o vídeo.