Via Época
Por Bruno Calixto
23.04.2013
Comemoramos no próximo domingo (28) o Dia da Caatinga,
uma data para nos lembrar de um dos biomas mais ameaçados e menos estudados do
Brasil. Atualmente, mais de 50% da mata nativa já foi desmatada, e a região
enfrenta uma forte estiagem – a pior seca do Nordeste nos últimos 50 anos.
O Blog do Planeta conversou com Rodrigo Castro, presidente da Associação
Caatinga, que acompanha de perto os problemas e os esforços de conservação na
região. Castro fala sobre os problemas da região, e conta um pouco da proposta
de aumentar o prestígio do bioma. Para isso, a ONG defende uma Proposta de
Emenda da Constituição (PEC) que transformada a Caatinga em patrimônio nacional
na Constituição brasileira, e atua na promoção e preservação do tatu-bola,
espécie escolhida como mascote da Copa do Mundo de 2014.
A pior seca do Nordeste em décadas
Blog do Planeta – Qual é a situação da Caatinga hoje?
Rodrigo
Castro – A situação da Caatinga, hoje, é a de um bioma ameaçado. São
duas variáveis que tornam o bioma ameaçado. Uma é o nível do desmatamento. Mais
de 50% da área de ocorrência da Caatinga já foi desmatada. A outra é o nível de
proteção: a Caatinga tem o menor índice de áreas protegidas no país. A proteção
legal do bioma é baixa e o nível do desmatamento é alto. Esses dois fatores
colocam a Caatinga como um ambiente ameaçado.
Blog do Planeta – Então mais da metade da Caatinga já foi
desmatada?
Castro – Sim, esse é o total acumulado. Mas os dados
variam, de 45% a 46%, segundo o Ministério do Meio Ambiente, até dados de
pesquisa que chegam a 60%, 65%. O seguro é dizer mais de 50%, mais da metade da
Caatinga já foi desmatada.
Blog do Planeta – Com todo esse desmatamento, como que o bioma está
resistindo à forte seca que o Nordeste vem enfrentando nos últimos
meses?
Castro – Períodos de seca são comuns na Caatinga. Porém, o
que torna essa seca grave é que já são dois anos consecutivos de estiagem
prolongada. Como a Caatinga foi forjada por esse clima, essa estiagem vai trazer
problemas em menor dimensão para o ecossistema. O grande problema é a
convivência humana. O homem precisa da água para produzir. Sem essa água,
aumenta a pressão no ecossistema. Quando não tem produção, aumenta a caça, a
exploração de madeira, de lenha, de carvão. A pressão sobre recursos naturais
cresce nesses períodos. Não é uma pressão climática. É uma pressão do homem que
busca na mata alternativas em períodos que não tem produção. Continua.