Por Carlos Tautz
11.02.2014
![]() |
Santiago Andrade, cinegrafista. Foto: Arquivo Pessoal |
Somente nesta cidade, 49 profissionais de imprensa foram atingidos por balas de borracha, cassetadas, pedradas, tapas, socos e ameaças de todos os tipos, vindas dos dois lados do confronto, o que já configura impacto sistêmico e particular contra uma categoria que vai às manifestações para exercer sua profissão.
Todos a quem cabe responsabilidade em evitar essas violências, e também são responsáveis em maior ou menor grau pela morte de Santiago, há muito possuem conhecimento do que já aconteceu e do que está por vir. Essas responsabilidades vão além, inclusive, do assassino direto do cinegrafista e é necessário que todos finalmente evitem que outras mortes se consumam.
A TV Bandeirantes precisa assumir a responsabilidade por ter enviado seu funcionário à linha de frente da manifestação dando-lhe como equipamento de proteção e identificação apenas um crachá. E, se lhe deu o equipamento adequado e Santiago não o utilizou, sua culpa continua, porque a empresa precisava tê-lo impedido de trabalhar.
Afinal, há muito o estado de guerra no Brasil mata tanto quanto conflitos convencionais e exige garantia de segurança a jornalistas do front da notícia. Tanto é que, ao socorrer Santiago, usavam capacetes os dois repórteres da BBC – emissora de larguíssima experiência na cobertura de todo tipo de conflito no mundo inteiro.
Enorme responsabilidade também tem o Secretário Estadual de Segurança Beltrame, que desde novembro passado foi procurado pelo sindicato para estudar como garantir a segurança dos jornalistas, mas desde então se omite. Finge desconhecer que jornalistas nestas situações precisam ter garantidos direitos como cidadãos, como trabalhadores e como operadores do direito de a sociedade se informar – este elemento fundamental para o exercício da própria democracia. Mas, a esta altura, é o caso de perguntar: alguém liga para a democracia?
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.