Via Agência Brasil/Agência Patrícia Galvão
24.05.2012
Brasília - Especialistas em comunicação advertem que programas exibidos pelas
emissoras de televisão têm um efeito em cadeia na educação das crianças e
adolescentes. Para eles, um programa que contenha cenas de violência e que
exponha a figura feminina, por exemplo, deve ir ao ar em um horário no qual
apenas adultos acompanhem a exibição. Também alertam sobre as ameaças de
agravamento da violência e da discriminação por meio da banalização do chamado
humor fácil.
Para a pós-doutora em cinema e televisão e professora da Universidade de
Brasília (UnB) Tânia Montoro, o tipo de humor apresentado no programa incentiva
a violência. “Esse tipo de humor de naturalização da violência simbólica contra
o feminino presta um desserviço à população brasileira”, disse ao se referir ao
programa Pânico na Band. “Existe um conceito filosófico comprovando que
as pessoas em formação imitam o que veem com frequência. O programa passa
ensinamentos de discriminação e atos violentos”, completou.
O Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos entrou hoje
(24) no Ministério Público Federal (MPF) com
uma representação em que pede a retirada do ar dos quadros A Academia
das Paniquetes e O Maior Arregão do Mundo, exibidos no programa
Pânico na Band. Para o conselho, a atração da emissora de TV Band
reproduz exemplos negativos para crianças e adolescentes, estimula a
discriminação e constrange a figura feminina. Procurada pela Agência
Brasil, a emissora informou por e-mail que não comentará a
representação.
Tânia Montoro disse ainda que é contrária a qualquer tipo de censura dos
meios de comunicação. Mas advertiu: “A sociedade está cansada desse tipo de
programa humorístico”. “O fato de ter audiência não significa em momento algum
que formas grotescas possam ser incentivadas. Agredir as pessoas não é humor e,
sim, violência.”
O jornalista e mestre em comunicação visual Cláudio Ferreira defendeu a
revisão da chamada classificação indicativa do Pânico, assim como de
seu conteúdo. “A primeira providência a ser tomada é reclassificar o programa.
Essa mudança é um instrumento importante para preservar esse público
infantojuvenil de programas inadequados. É obrigação do Estado rever a
classificação indicativa. Ao perceber que tem conteúdo inapropriado, deve-se
mudar o horário de exibição.”
Para o professor, as autoridades e a sociedade devem exigir qualidade na
programação de televisão. “Temos várias formas de fazer pressão para que um
programa como esse tenha boa qualidade, mas, com o humor, é um pouco mais
difícil, porque às vezes perde-se o limite de respeito. Vivemos em uma sociedade
com muitos problemas de educação. A televisão, além de ser um meio de
comunicação, é um meio de instrução para as pessoas. Ela mostra o comportamento
e pode influenciar nesse sentido”, disse ele.
Edição: Talita Cavalcante e Juliana Andrade