Via blog do Noblat
03.04.2013
Zuenir Ventura, O Globo
Não quero ser alarmista, mas se o Engenhão, com pouco mais de seis anos, teve
que ser interditado por causa de ferrugem no arco da cobertura, o que dirá o
Elevado do Joá, com seus 40 anos de existência, sujeito à maresia e a uma
duvidosa manutenção? A Coppe já deu a resposta. Através de laudo técnico,
diagnosticou que “o estado de degradação estrutural pelo avanço da corrosão
compromete a segurança do viaduto”.
Tudo bem que foram tomadas providências emergenciais para os reparos
parciais. Mas será que isso resolve? Engenheiros acham que não. O professor
Miranda Batista, que coordenou o estudo, é taxativo: “A vida útil do Joá acabou.
A reforma que a prefeitura promete fazer cobre apenas as áreas onde o problema é
visível. Mas 60% delas não podem ser fiscalizados.”
O vice-presidente da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE,),
Ubirajara Ferreira da Silva, também defende a restauração completa do elevado.
“O que o prefeito propõe é atuar com base na incerteza”, ele acusa.
Eduardo Paes alega que, como restam de fato incertezas sobre as reais
condições de conservação nas partes internas da construção não visíveis por
falta de acesso, é mais econômico realizar as obras que, ao longo do tempo,
forem apontadas como necessárias. Mais econômico, sim. O trabalho inteiro
custaria mais de R$ 100 milhões.
Em compensação, a solução não seria muito mais segura? O relatório dos
técnicos não deixa dúvidas quanto à gravidade do desgaste estrutural dos “dentes
de apoio das vigas”. Quem já viu um filme parecido com final trágico, como a
queda do Elevado Paulo de Frontin, em 1971, não passa hoje pelo Joá
despreocupadamente. Como desabafou a jornalista Leda Nagle: “Não posso ficar
calada, fingindo que não sei que o viaduto está corroído e ameaçado.”
É evidente o perigo que oferecem nossas obras públicas. O Engenhão, além de
tudo, não suporta nem ventos de mais de 60km; o Joá, com estrutura soltando
pedaços, é uma situação de risco; prédios do Minha Casa Minha Vida desabando
antes de inaugurar; o BRT Transoeste, de apenas nove meses, tendo que refazer o
asfalto da pista. Enfim, não dá para não se assustar.
Quaisquer que sejam as causas — defeitos no projeto, falhas na execução,
precariedade de material, falta de fiscalização, descuido com a manutenção ou
tudo isso, a verdade é que há algo de podre com as nossas edificações oficiais,
e a culpa talvez não seja apenas da engenharia.
Zuenir Ventura é jornalista.