quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Prece para Marlene

Meu primo, Mario Gonçalves Filho, fez uma Prece no velório da minha irmã Marlene Chiarelli Mauro, na qual relembrou quem tinha sido ela, a gentileza, a atenção, o respeito e o amor com que sempre tratou as pessoas. 

Relembrou também a alegria que era a casa dos meus pais na Vila Tibério, bairro de Ribeirão Preto, onde a família toda sempre se reunia.

Na ocasião, ele leu um texto que reproduzo, abaixo.

Muito obrigada, Marinho, pela sua delicadeza e carinho ao homenagear a minha irmã.



PARTIDA E CHEGADA

Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.
O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor. Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram. 
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: Já se foi. 
Terá sumido? Evaporado? 
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. 
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha, quando estava próximo de nós. 
Continua tão capaz, quanto antes, de levar ao porto de destino as cargas recebidas. 
O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. 
E talvez, no exato instante em que alguém diz: Já se foi, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: Lá vem o veleiro. 
Assim é a morte. 
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: Já se foi. 
Terá sumido? Evaporado? 
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. 
O ser que amamos continua o mesmo. Sua capacidade mental não se perdeu. Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado. 
Conserva o mesmo afeto que nutria por nós. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita no outro lado. 
E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: Já se foi, no mais Além, outro alguém dirá feliz: Já está chegando. 
Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena. 
A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos. 
Cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário. 
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas. 
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada. Um dia partimos do mundo espiritual na direção do mundo físico; noutro, partimos daqui para o espiritual, num constante ir e vir, como viajores da Imortalidade que somos todos nós. 

* * * 

Victor Hugo, poeta e romancista francês, que viveu no século XIX, falou da vida e da morte dizendo:
A cada vez que morremos ganhamos mais vida. As almas passam de uma esfera para a outra sem perda da personalidade, tornando-se cada vez mais brilhante. 
Eu sou uma alma. Sei bem que vou entregar à sepultura aquilo que não sou. 
Quando eu descer à sepultura, poderei dizer, como tantos: meu dia de trabalho acabou. Mas não posso dizer: minha vida acabou. 
Meu dia de trabalho se iniciará de novo na manhã seguinte.
O túmulo não é um beco sem saída, é uma passagem. Fecha-se ao crepúsculo e a aurora vem abri-lo novamente. 



Redação do Momento Espírita, com
pensamentos finais de Victor Marie Hugo, do
livro  A reencarnação através dos séculos, de
Nair Lacerda, ed. Pensamento.
Impresso do site: momento.com.br