Gostaria de perguntar aos meus
amigos do FB quando foi a última vez que visitaram o Museu Nacional. A pergunta
não é apenas aos pesquisadores e museólogos, mas a todos. Não apenas para os
cariocas e fluminenses, mas igualmente para aqueles que, mesmo morando fora do
Rio, sempre que podem estão por lá. E a mesma pergunta vai para os “apaixonados
por museus”, aqueles que visitam as instituições de fora do país e pouco
prestigiam as brasileiras. Quando foi a última vez que todos vocês visitaram o
Museu Nacional?
Faço esta pergunta porque a minha
última visita ao MN foi em 2013. Fui levar uns sobrinhos queridos para
conhece-lo. Naquela visita, a tragédia já estava ali, e se manifestava por uma
série de salas fechadas, por elementos com óbvios problemas de manutenção, por
peças em exibição precisando de cuidados.
O que fiz? Acho que no máximo
comentei com os familiares sobre o “abandono” do Museu. É claro que o que
percebi – eu sabia –, devia ser a ponta do iceberg que na noite de domingo
transformou o MN naquele fogueirão visto por todos. Mas minha indignação foi
transformada em algum tipo de ação mais efetiva? Pelo menos escrevi uma carta
para algum jornal alardeando aquela situação? Não. Simplesmente não fui mais ao
MN em minhas idas para o Rio.
Faz poucos meses, li uma matéria
em que o diretor do Museu tornava pública mais uma vez a situação da
instituição, há décadas sem condições de levar a bom termo seus objetivos. Na
sua fala dava para saber sobre seus esforços, e de sua equipe, para levar
adiante a instituição, as pesquisas ali realizadas, sem o apoio efetivo das
autoridades federais, estaduais e municipais. Sem um engajamento efetivo da
Universidade.
O que fiz? Silenciosamente me
solidarizei e ficou por isso mesmo.
Agora o incêndio e a perda de um
patrimônio incalculável, de pesquisas fundamentais. Agora a gritaria, o dedo
acusatório.
Brasileiro não gosta de museu e é
por isso que faço de novo a pergunta: quantos dos meus amigos tinham visitado o
MN?
Não faz parte da cultura do
brasileiro visitar museus, e aqui não estou me referindo ao povão, falo da
elite econômica brasileira – você, eu e a turma toda –, aquela que ganha a
partir de cinco salários mínimos por mês (porque, na atual conjuntura do
Brasil, estar empregado e ganhar mais do que cinco salários mínimos é ser da
elite, sim, senhores e senhoras).
Brasileiro não frequenta museu no
Brasil e quando o faz, fica mais preocupado em chamar a atenção para as falhas
que encontra do que para os pontos positivos em que tropeça. Aliás, gostam
muito de encontrar pontos negativos para comparar com os (poucos ou muitos)
museus que visitam na estranja.
O Museu Nacional, com seus dois
séculos de história, foi um dos acervos mais importantes do Hemisfério Sul, foi
o fruto de uma imensa equipe que, em sua maioria anônima, se perde no tempo. Um
pessoal voltado para os objetivos de coletar, armazenar, estudar e exibir/divulgar
um acervo que se espraiava por várias áreas do conhecimento humano. Devemos
esse museu a essas gerações de trabalhadores abnegados das mais diversas áreas
e não a você ou a mim, porque só nos interessamos de fato por museus no Brasil
quando eles pegam fogo. No mais, estamos é preocupados em visitar o MoMa de
Nova York ou algum outlet em Orlando (o que acaba dando no mesmo, para muitos,
com a vantagem de que, no último dá para comprar mais).
O incêndio como símbolo do desmanche
da cultura e da educação do governo #foratemer? Claro, mas não somente.
O último presidente a visitar o
Museu Nacional foi Juscelino Kubitscheck, morto há 42 anos. Jânio Quadros, João
Goulart, Castelo Branco, Costa e Silva, Geisel, Figueiredo, Tancredo, Sarney,
Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e temer, todos eles e ela não tiveram tempo,
ou paciência, ou saco para visitar aquele acervo e centro de pesquisa
universitário. Um time que reúne presidentes de esquerda, direita e tico-tico
no fubá – nenhum deles deu nem uma passadinha por ali.
É que brasileiro não gosta de
museu. Brasileiro não gosta de museu e possui uma perversa predileção por ver o
circo pegar fogo.
As apostas já começaram: qual
será o próximo museu, ou a próxima instituição a queimar no Rio, a Biblioteca
Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes? E em São Paulo (alguns torcem para
que o Museu do Ipiranga vire cinza porque “seria o fim do PSDB”)? E em Santa
Catarina, Pará, Pernambuco?
Brasileiro não gosta de museu e
de biblioteca, centro culturais, e não gosta de educação, de cultura e de arte
e de ciência. Para eles é tudo coisa de frescos e/ou esnobes, que deveriam
queimar junto com as velharias que fazem entupir esses espaços (aliás, o
edifício do MN, desde que devidamente guaribado, daria um lindo shopping).
Faz cinco anos que não visito o
Museu Nacional do Rio de Janeiro e nunca mais poderei repetir a experiência.
Fico com pena daqueles que nunca o visitaram – como não visitaram a maioria dos
museus de suas cidades –, e agora apedrejam os fantoches que “governam” nossas
instituições (incluindo aqui a UFRJ, apontada por muitos – e de maneira
irresponsável –, como a única culpada pelo incêndio do
Museu). Tudo bem apedrejá-los. Mas antes, por favor, apedrejem a si mesmos.
TADEU CHIARELLI