sábado, 18 de outubro de 2008

Só sei chorar em português



Naiara, à esquerda. E Eloá.
Nessa semana recebi um e-mail de uma amiga muito querida, que está morando fora do Brasil. Há dois anos. Me emocionei profundamente com as palavras dela. Longe de casa, longe da língua, longe, enfim.

Outras pessoas muito queridas que lêem esse blog estão também fora do Brasil. E sempre que penso nelas, sinto um aperto dentro do peito, uma sensação de desamparo. Uma sensação de desamparo que pode ser minha, não delas. É que jamais concebi a minha vida fora do Brasil. Jamais. Fugi de tudo que me levasse para fora daqui. Não me imagino chorando em francês, nem em inglês, alemão, espanhol... Não me imagino, simplesmente. Nem de viajar eu gosto. Só viajo quando se faz extremamente necessário. Mesmo assim, relutando.

O porquê de tudo isso: é que nesta semana, desde segunda-feira, estava acontecendo um seqüestro em Santo André, aqui no Estado de São Paulo, um seqüestro que teve um final muito trágico, dramático. E eu evitei, conscientemente, falar sobre o assunto, como se não quisesse preocupar as pessoas que estão fora, como se quisesse protegê-las.

Mas ao ler as notícias hoje pela manhã, e me deparar com a foto da Naiara (15 anos) e da Eloá (15 anos), me senti compelida a falar sobre o assunto.

Adolescentes estudavam. O ex-namorado de uma das adolescentes, armado, invadiu o apartamento onde o grupo estava e, depois de muita confusão, manteve a ex-namorada, Eloá, e a amiga, Naiara, reféns. Naiara foi libertada. Horas depois, Naiara volta – é isso mesmo: volta! -, e é recapturada pelo seqüestrador. Mais de 100 horas se passaram. A polícia invade o apartamento. As garotas foram baleadas, e o ex-namorado preso. As duas foram levadas para o hospital, Eloá em estado gravíssimo. Chegaram até noticiar a morte dela.

Nesse país se mata por qualquer coisa: por uma par de tênis, por uma bicicleta, por uma briguinha banal no trânsito - e fora dele -, por ciúmes, por ódio, por excesso de amor, por falta de amor, por, por, por. Aqui o assassinato, como saída para qualquer conflito, parece ter sido institucionalizado.

Nos olhos, nos sorrisos dessas duas garotas, o futuro.

E eu que só sei chorar em português...