sábado, 31 de agosto de 2013

Estádio só pra rico?

Via Pública
Por Ciro Barros e Giulia Afiune
23.08.13

Ingressos disparam nos últimos dez anos no Brasil e novas arenas têm preços 119% maiores do que os estádios antigos, afastando os torcedores tradicionais

“Tô sentindo isso na pele. Tenho um filho de 14 anos, flamenguista também, e ainda não consegui levar ele no Maracanã devido a essa sem-vergonhice que eles fizeram”, diz Reinaldo Reis, morador da comunidade da Estradinha e presidente da Associação de Moradores do Morro dos Tabajaras, na zona sul carioca.

Reinaldo, 39 anos, é um flamenguista fanático. Um papo breve com ele já basta para ouvir aqueles “causos” típicos do torcedor de estádio. Mas não de qualquer estádio; Reinaldo também tem uma relação umbilical com o Maracanã, sede carioca da Copa 2014. Frequentador desde os seis anos de idade, quando acompanhava um vizinho nos jogos do Fluminense, Reinaldo comemorou quando, aos 11 anos, ganhou permissão para ir ao Maraca sozinho. “Foi uma alegria muito grande quando a minha mãe me deu essa liberdade de ir ver o Flamengo. Eu já era flamenguista, mas só tinha ido no Maracanã ver o Fluminense. Eu gostava de ver o estádio. Mas ver o meu time lá foi muito legal”.

Desde então, Reinaldo se tornou, nas palavras de Nelson Rodrigues, um “Arquibaldo”: o torcedor de arquibancada. Supersticioso, sempre que pôde ficou na arquibancada superior do Maraca, entre a Raça Rubro-Negra e a Jovem Fla, torcidas organizadas do Flamengo. O jogo mais marcante? “Com certeza foi aquele Flamengo e Botafogo de 1992, quando caiu a arquibancada. Se eu tô aqui podendo falar com você foi porque eu cheguei um pouco atrasado naquele dia e por sorte não tava no meio da galera que caiu”, relembra. O jogo foi em 19 de julho de 1992, decisão do Campeonato Brasileiro entre Fla e Bota. Na ocasião, parte da grade de proteção da arquibancada superior cedeu e alguns torcedores caíram no anel de baixo. “Que sorte que eu não tava, meu irmão”, diz.

Desde que o seu filho mais velho nasceu, Reinaldo assumiu um compromisso: ir com o menino a todos os jogos do Flamengo no Maracanã. “Pô, meu primeiro filho, filho homem. A primeira coisa que eu quis foi levar ele pra torcer comigo. E eu tava levando ele em todos os jogos, todos mesmo, mas depois dessa reforma pra Copa não tem a menor condição”, afirma. “Antes de fechar para a reforma, já tava difícil. O ingresso mais barato a 40 reais já não era tão acessível. Mas agora, com esse absurdo que tá o preço dos jogos, não tem como. Se eu for pagar, por mais barato que seja, vai ser 80 reais o jogo. Para tomar um refrigerante, comer um cachorro-quente, tudo mais, eu tenho que levar no mínimo R$ 150. Qual trabalhador tem esse dinheiro sobrando pra gastar em ingresso?”, questiona. CONTINUA!