terça-feira, 15 de abril de 2014

Mundo precisará investir US$ 177 bi por ano para evitar caos climático


JC e-mail 4933, de 14 de abril de 2014
Mundo precisará investir US$ 177 bi por ano para evitar caos climático


Relatório divulgado pelo IPCC neste domingo alerta que medidas precisam ser tomadas para evitar aumento de 2 graus Celsius na temperatura global


O mundo precisará investir US$ 177 bilhões por ano para evitar o caos climático, segundo um relatório divulgado neste domingo pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Cientistas reunidos em Berlim durante a semana passada discutiram um documento sobre o que pode ser feito nas próximas décadas para atenuar o aquecimento global.

Os tomadores de decisão já correm contra o tempo. Desde 2010 eles deveriam fazer um investimento anual de US$ 30 bilhões para reduzir a dependência em combustíveis fósseis, principal matriz energética de muitos países. Além disso, também é necessário aplicar US$ 147 bilhões por ano no desenvolvimento de fontes de energia renováveis. Estas quantias devem ser mantidas pelo menos até 2029.

De acordo com os cientistas, se estes valores forem respeitados, talvez seja possível impedir que a temperatura global aumente mais de 2 graus Celsius. Se os termômetros forem além disso, o homem pode perder totalmente o controle sobre as mudanças climáticas e sofrerá os eventos extremos com maior intensidade e frequência.

A queima de combustíveis fósseis representa 47% das emissões de gases poluentes do planeta. E sua liberação para a atmosfera tem crescido 2% por ano desde o início da década. Nem a crise econômica entre 2007 e 2008 impediu a escalada da poluição.

Vice-presidente do IPCC, Suzana Kahn, professora da Coppe-UFRJ, ressalta o vínculo entre a situação econômica mundial e a procura por energias renováveis.

- Estas novas fontes estão cada vez mais presentes, mas ainda dependem de subsídios e políticas especiais - pondera. - Em um período de crise econômica, estas são as primeiras medidas cotadas. Talvez isso mude com a conscientização do risco para o clima de se manter uma economia baseada nos combustíveis fósseis.

Há, no entanto, indícios de que os países mais poluidores do mundo enfim estejam debruçando-se em planos para engatar uma nova forma de produzir energia. Segundo Osvaldo Stella, diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, as mudanças mais notáveis estão nos EUA e na China.

- Os EUA adotaram o gás de xisto, que é menos poluente, e devem reduzir muito, e em poucos anos, suas emissões de gases-estufa - destaca. - A China, por sua vez, tem investido pesado em energias renováveis, e também está se livrando de usinas térmicas de carvão obsoletas.

Coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia da WWF-Brasil, André Nahur acredita que o Brasil também pode gerar energia de uma forma mais limpa e renovável.

- Em São Paulo, por exemplo, a energia solar tem um potencial equivalente ao da usina hidrelétrica de Itaipu - compara. - A Região Nordeste, que é muito mais ensolarada, teria resultados ainda melhores.

Stella assinala que o último verão mostrou como o país precisa rever sua dependência do setor hidrelétrico. Segundo os prognósticos do IPCC, o Brasil será palco de mais eventos extremos nas próximas décadas. A estiagem no Sul do país, que esvaziou os reservatórios e pôs a palavra "racionamento" na pauta do governo, tende a se repetir com frequência.

Pela primeira vez o relatório do IPCC dedica uma análise exclusiva às cidades, de onde vêm mais emissões de CO2. Quanto pior é o planejamento de uma metrópole, maiores são seus índices de poluição e de liberação de gases-estufas.

- Uma cidade mal planejada é ruim em vários aspectos - explica Stella. - Um congestionamento, por exemplo, é um dos meios menos eficientes de deslocamento produzido pela sociedade, e além disso permite a emissão de CO2. Esta é uma das ineficiências que contribuem para o esgotamento do recurso hídrico e a falência da saúde pública.

Suzana aponta outras ameaças que prometem sacolejar ainda mais as cidades nos próximos anos.

- Os grandes centros urbanos são muito vulneráveis a impactos como chuvas, alagamentos e ondas de calor e frio - descreve. - As metrópoles situadas na costa ainda precisam enfrentar a questão do aumento do nível do mar. E, no Brasil, a maior parte delas está no litoral.

(Renato Grandelle / O Globo)

Outras matérias sobre o assunto:

Folha de S.Paulo
Contra caos no clima, ONU pede mudança para energia limpa

Valor Econômico
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