sábado, 30 de julho de 2011

Livro com poesias inéditas de Guilherme de Almeida é lançado

Via Ciência e Cultura / SBPC
Cienc. Cult. vol.63 no.2 São Paulo abr. 2011

Talvez seja difícil para a geração atual, cada vez mais mergulhada na transitoriedade e na especialização, entender um intelectual como o paulista Guilherme de Almeida, tradutor, jornalista advogado e poeta. Com esse feixe de talentos, transitou em diversas áreas, sempre com entusiasmo, com paixão. Foi também um dos mentores do movimento modernista brasileiro com uma atuação decisiva na realização da Semana de Arte Moderna, ao lado de nomes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Menotti del Picchia. Envolveu-se na Revolução Constitucionalista de 1932, o que lhe rendeu a prisão e o exílio em Portugal e ainda lhe deu fama de conservador. Nada mais equivocado. Não seria exagero dizer que Guilherme de Almeida foi o mais moderno dos modernistas. Sempre buscando dialogar com as vanguardas, o "Príncipe dos poetas brasileiros" também passeou por diversas outras áreas: tradução, jornalismo, artes gráficas, teatro, cinema, música e até televisão.

O poeta morreu em 1969 deixando um conjunto de poesias inéditas. Como alguém que se prepara para partir, os poemas foram cuidadosamente datilografados e envolvidos em uma capa feita de cartolina. O esboço de livro chegou às mãos do também poeta Marcelo Tápia em 2009. Ele, como diretor da Casa Guilherme de Almeida, com sede na capital paulista, providenciou a publicação seguindo à risca o formato sugerido pelo autor. O livro Margem foi publicado no final de 2010 pela Editora Annablume com prefácio escrito por Tápia e posfácio do poeta e linguista Carlos Vogt.

Os pequenos poemas soam como constatações. Como um observador que olha ao acaso, da margem de um rio, da margem da vida, Guilherme de Almeida tenta captar o instante, o poema-instante, como lemos na poesia que abre o livro. Chama a atenção a leveza e o frescor do texto. Mesmo com quase 80 anos, o poeta não demonstra nostalgia ou saudade pelo que se foi. Prefere cantar a vida, mesmo quando fala do que já passou: "alva, lívida, ávida ave da vida havida!". Continua