sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Plataforma continental pode ter abrigado floresta na era do gelo

JC-Notícias/SBPC
14.01.2016

Modelos ecológicos e análises genéticas contrariam aplicação da teoria dos refúgios à Mata Atlântica e indicam expansão do bioma há 21 mil anos

A plataforma continental brasileira, área submersa ao longo da costa, pode ter abrigado uma extensa área de Mata Atlântica há cerca de 21 mil anos, período conhecido como Último Máximo Glacial. A ideia é do casal de biólogos Yuri Leite e Leonora Costa, professores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e contraria a visão aceita por muito tempo de que o frio teria forçado o encolhimento da Mata Atlântica e ilhado pequenas populações de plantas e animais em fragmentos isolados de floresta – os refúgios. “A plataforma continental aparece no Google Maps, mas ninguém pensa nela como parte do continente”, explica o pesquisador, que passou a enxergar essa área sempre que via o mapa. “Até na televisão, em noticiários.” A ideia se baseia no conhecimento de que naquela época o nível do mar era bem mais baixo, e por isso foi batizada de hipótese da Mata Atlântida, em referência ao continente que teria sido engolido pelo oceano, segundo relato de personagens de dois diálogos de Platão. Os resultados foram publicados na segunda-feira (11/1) no site da revista PNAS.

Leite diz que a inspiração surgiu por acaso, mas seria mais preciso dizer que foi um encontro de ideias e colaborações catalisado pelo Laboratório de Mastozoologia e Biogeografia, coordenado por ele e Leonora. Trabalhando com modelos ecológicos para inferir condições passadas, Carolina Loss, em estágio de pós-doutorado no laboratório, teve a ideia de considerar o contorno do continente na época glacial, quando o nível do mar baixou e a costa avançou centenas de quilômetros para leste, expondo 270 quilômetros quadrados da plataforma, o equivalente a três vezes o território de Portugal. Ao mesmo tempo, num projeto em parceria com a bióloga Renata Pardini, da Universidade de São Paulo, e outros colegas, o grupo buscava avaliar a resposta dos pequenos mamíferos à fragmentação da Mata Atlântica. Espera-se que essas situações de redução do hábitat disponível e de isolamento em trechos distantes causem redução populacional e a consequente perda de variedade genética. Mas não era isso que viam nos modelos demográficos analisados pela bióloga portuguesa Rita Rocha, também em pós-doutorado na Ufes: não havia uma assinatura genética de redução populacional, e todos os cenários eram rejeitados nos modelos computacionais.

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