quinta-feira, 7 de julho de 2016

Manifesto de mulheres cientistas fala abertamente sobre assédio sexual

JC-Notícias/SBPC
06.07.2016

Manifesto lançado por um grupo de pesquisadoras de vários países, durante um encontro científico internacional no Rio de Janeiro (RJ), apontou o assédio sexual como um dos grandes problemas vivenciados por elas em suas carreiras profissionais

“É primeira vez que vejo isso aparecer em um documento de mulheres cientistas falando sobre as dificuldades da carreira”, disse Ligia Rodrigues, física teórica aposentada do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e feminista com longa história de militância em defesa dos direitos e da igualdade das mulheres no Brasil.

O manifesto – reproduzido, em português, no final deste texto – foi redigido ao término de uma reunião ocorrida no CBPF no último dia 21 e na qual estavam 18 das 21 participantes que vieram para um encontro internacional de física teórica. Depois de uma breve apresentação, cada mulher – entre pesquisadoras e pós-graduandas – teve liberdade para falar sobre o tema que quisesse.

“A surpresa é que, independentemente do país de origem e da cultura, os relatos foram muito semelhantes. O assédio sexual foi apontado como uma das principais queixas no âmbito da carreira”, disse Ligia, que faz questão de enfatizar que o assédio sexual é um problema sério e que incomoda as mulheres em geral.

Lê-se em um trecho do manifesto: “as mulheres são com frequência atacadas tanto física quanto psicologicamente; na maioria das vezes, na forma sub-reptícia de piadas ou daquilo que alguns podem chamar de “comentários lisonjeiros”. Não são lisonjeiros; são assédio sexual. Na comunidade científica, este problema ocorre com muito mais frequência do que muitos podem imaginar”.

“Dizer que uma mulher é bonita ou está elegante não é assédio sexual. É um comentário lisonjeiro. Qualquer, qualquer mulher sabe a diferença. O problema são os comentários maliciosos, grosseiros”, explica Ligia. Para a física teórica, o cenário ganha gravidade quando estes últimos partem do orientador. “Quando há diferença de hierarquia, é preciso ter ainda mais cuidado com esse tipo de atitude, e isso independe do gênero das pessoas envolvidas”, completa.

Continua.