Revista Radis/Fiocruz
Número:
167 -
Agosto 2016
Editorial
Rogério Lannes Rocha
Megaeventos esportivos são usados como pretexto para impor modelos de reordenamento urbano desde 1992, na Olimpíada de Barcelona, na Espanha. Foi assim em 2014, durante a Copa da Fifa em várias capitais do Brasil. E o mesmo ocorre agora, com a Olimpíada do Rio de Janeiro.
As alardeadas transformações e modernizações para os jogos olímpicos legaram ao carioca uma cidade ainda mais excludente, desigual e entregue à especulação imobiliária. O modelo de ocupação e mobilidade implantado é voltado para os negócios, em detrimento do interesse e da qualidade de vida da maioria da população, dos transportes de massa e de soluções socioambientais sustentáveis, atestam pesquisadores, movimentos sociais e moradores ouvidos pelas repórteres Ana Cláudia Peres e Liseane Morosini.
Moradias, empregos e vidas estão em risco ou foram perdidas num processo truculento de segregação, que o urbanista Carlos Vainer caracteriza como “cidade de exceção”, numa referência à suspensão de direitos e garantias constitucionais. O pesquisador Orlando dos Santos Junior evoca o direito à cidade e lembra que o número de habitações vazias nas metrópoles brasileiras equivale ao número de pessoas sem teto. Em desvantagem na disputa pelo espaço urbano, há um outro projeto de cidade, mais humana, saudável e solidária, destinada às pessoas, em que o interesse público fala mais alto, registra a matéria de capa.
Às vésperas da Olimpíada, o editor Adriano De Lavor entrevistou grandes desportistas e profissionais de Educação Física sobre os impactos à saúde provocados por treinamentos exaustivos, lesões, dedicação extrema e pressão psicológica a que estão submetidos os atletas de alto rendimento. Outrora amadores movidos por aptidão genética e perseverança, os atletas atuais são profissionais de carreira extremamente desgastante e frequentemente curta, a serviço de um espetáculo bilionário, que nem sempre lhes recompensa.
Nos esportes olímpicos ou no futebol profissional, a maioria permanece mal remunerada ou fica pelo caminho com suas frustrações e sequelas. A cultura da superação de limites a qualquer custo, além dos danos que causa no ambiente olímpico, dissocia a atividade física da saúde, quando reproduzida nas práticas esportivas de pessoas comuns.
A comunidade da saúde pública está indignada com as ameaças do governo interino contra o SUS e demais serviços públicos, como a censura ao pensamento crítico na Educação, disfarçada pelo mote “escola sem partido”. Da mesma forma, enxerga na subtração de direitos trabalhistas e previdenciários — ver matéria sobre o mito do déficit na previdência — um ataque à saúde dos trabalhadores.
Pesquisadores alertam para os riscos do benzeno, substância cancerígena presente na extração e no refino do petróleo e na produção de aço. Ele entra em contato com o corpo via respiração, como na inalação pela manipulação de gasolina e solventes, ou por contato direto com a pele.
O ex-presidente da Fiocruz e atual presidente do Conselho Político e Estratégico de Bio-Manguinhos, Akira Homma, relembra, em entrevista, a epidemia de meningite ocultada pela ditadura na década de 1970 e analisa as tendências na produção de imunobiológicos e vacinas.
Autor:
Rogério Lannes Rocha