quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Educação no Brasil evolui, mas resultados no Pisa não são expressivos, analisam especialistas


JC e-mail 4868, de 04 de dezembro de 2013
Educação no Brasil evolui, mas resultados no Pisa não são expressivos, analisam especialistas

No Brasil, 18.589 em todos os estados e no Distrito Federal responderam às questões, em 767 escolas


O Brasil ocupa o 58º lugar em matemática, o 55º lugar em leitura e o 59º lugar em ciências em um ranking de 65 países no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) 2012. O cenário não é muito diferente do de 2009, quando o país assumiu a 53ª posição em leitura e ciências, e o 57º lugar em matemática. Segundo especialistas, ao longo da última década o país apresentou avanços que devem ser comemorados, mas que não representaram melhoria expressiva na aprendizagem.

A prova é aplicada a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos. A cada ano o relatório tem uma área como foco. Em 2012, o destaque foi para matemática. "A gente dá saltos, avança [na prática], mas não sai do lugar [no Pisa]", diz o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.

O relatório destaca que a pontuação em matemática aumentou em média 4,1 pontos por ano, passando de 356 em 2003 para 391 em 2012. A pontuação em leitura cresceu, desde 2000, a uma média de 1,2 pontos por ano - saindo de um patamar de 396 - e, desde 2006, a pontuação em ciências cresce a uma média de 2,3 pontos por ano, partindo de 390.

Nos três casos, no entanto, o país está abaixo da média dos países da OCDE e a maior parte dos estudantes tem conhecimentos básicos nas áreas. Em matemática, 67,1% estão no nível 1 ou inferior, ou seja, são capazes de fazer operações básicas e resolver problemas simples. Apenas 1,1% dos estudantes está no nível 5 ou 6 - o máximo - de proficiência.

Para Daniel Cara, parte do problema está no investimento. O Brasil investe, segundo o relatório, em média US$ 26.765 por estudante entre 6 e 15 anos. Um terço da média dos demais países da OCDE, US$ 83.382. Além do baixo investimento, o Brasil apresenta disparidades entre os estados e o Distrito Federal. Segundo ele, caberia ao governo federal diminuir e eliminar essas desigualdades.

A diretora executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, diz que apesar de o posicionamento no ranking não ser bom, o país deve comemorar a inclusão de crianças e adolescentes na escola. Segundo o texto, as taxas de escolaridade para jovens de 15 anos, aumentaram de 65% em 2003 para 78% em 2012. O Brasil incluiu mais de 420 mil estudantes, o que o coloca atrás apenas da Indonésia nesse quesito.

"Os estudantes que foram incorporados são provenientes de famílias com patamares de renda mais baixos. Eles podem ter segurado a nota do Brasil", diz. "Mas isso não é negativo, é maravilhoso que aconteça, o país não pode tolerar um sistema que tem uma parcela de jovens fora da escola. Acontece que essa é uma tarefa que deveríamos ter feito anos atrás", acrescenta Priscila.

Tanto ela quanto Daniel Cara acreditam que para que o país melhore os índices de aprendizagem é necessário investimento na carreira dos professores.

O diretor executivo da Fundação Lemann, organização sem fins lucrativos que atua em projetos de educação no país, Denis Mizne, diz que o resultado no Pisa mostra que o Brasil precisa voltar a atenção à aprendizagem. Segundo ele, falta uma definição clara de quais conhecimentos os estudantes devem dominar a cada etapa.

"O Brasil está fazendo um grande esforço em educação, mas está faltando uma orientação mais clara desses esforços. O foco tem que ser na aprendizagem e no que a gente espera que nossos alunos aprendam", avalia. De acordo com Mizne ter metas claras facilita também a formação dos professores. "O que vai mudar é o que se faz no dia a dia, na sala de aula. Os professores precisam de formação e ferramentas para que os alunos aprendam. É preciso também corrigir as disparidades com mais recursos para quem mais precisa".

Ele acrescenta que o país não tem permitido que os alunos em condições vulneráveis possam chegar, pela escola, ao nível dos demais. O levantamento mostra que no país, 1,9% dos estudantes superaram pela escola as condições socioeconômicas nas quais estão inseridos e obtiveram performance acima do esperado. Esse índice ultrapassa os 12,5% em Hong Kong e Macau (China), Cingapura e Vietnã.

Mesmo com os problemas constatados, enquanto nos demais países da OCDE 80% dos estudantes se dizem felizes na escola e 78% estão satisfeitos, no Brasil, 85% sentem-se felizes na instituição e 73% satisfeitos. No entanto, enquanto nos demais países 61% acreditam que as condições na escola são ideais, o índice cai para 39% no Brasil.

A avaliação do Pisa 2012 foi aplicada a 510 mil alunos de 65 países. No Brasil, 18.589 em todos os estados e no Distrito Federal responderam às questões, em 767 escolas.

(Mariana Tokarnia/Agência Brasil)

Outras matérias sobre o assunto:

O Globo
Pisa 2012 mostra que Brasil gasta pouco e mal com educação

'Crianças mais pobres precisam ter acesso às melhores escolas', diz responsável pelo Pisa

Folha de S.Paulo
Brasil melhora em matemática, mas segue entre piores do mundo

Países ricos gastam 3 vezes mais do que Brasil em educação

O Estado de S.Paulo
Brasil evolui, mas continua entre os piores em ranking mundial de ensino

Início do conteúdo'Poderíamos estar ao lado do México', diz ministro

Diferença entre estudantes da rede pública é de até 4 anos

'É preciso trazer grandes alunos para a docência'

Acima da média nacional, SP para em 7º

Capixabas ganham com Matemática

Alagoas tem o pior desempenho do país