segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Modernismo baiano e a invisibilidade dos artistas negros
Jornal da UNICAMP
Edção 734
Marina Gama
Historiador revela como o mito da democracia racial sustentou exclusões simbólicas e materiais no meio artístico
Em meados da década de 1940, o jovem pintor Rubem Valentim voltou para casa em Salvador após mais um dia de trabalho como dentista. Em seu diário, registrou um gesto extremo: destruiu pincéis, tintas e cavalete. Segundo o relato, sentia-se sufocado pela impossibilidade de ser reconhecido como artista em um ambiente que, embora exaltasse a negritude como símbolo cultural, fechava as portas para criadores negros.
Essa cena, preservada em seus diários da juventude, sintetiza as contradições que atravessaram a vida de uma geração de artistas negros baianos. Ao mesmo tempo em que sua arte era celebrada de maneira condescendente como expressão da autenticidade popular, suas ambições como intelectuais e inovadores eram sistematicamente diminuídas.
Foi para reconstruir esses caminhos que o historiador Bruno Pinheiro dedicou os últimos anos a uma pesquisa minuciosa sobre o modernismo negro na Bahia entre 1947 e 1964. Sua tese de doutorado, defendida no programa de pós-graduação em História, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, sob orientação da professora Silvana Rubino, venceu o Prêmio Capes de Teses 2025.












