JC e-mail 4756, de 27 de Junho de 2013.
'Nossa situação é desesperadora', diz diretor sobre crise no Hospital Escola
Segundo Sérgio Lopes, unidade em São Carlos corre risco de fechar na 2ª. Falta de pagamento do Executivo é o principal motivo; prefeito não dialoga. (Reportagem do G1)
Sem receber verbas da Prefeitura desde janeiro, o Hospital Escola, ligado à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), corre o risco de fechar as portas na próxima segunda-feira (1º). Segundo o diretor executivo da unidade, Sérgio Luiz Brasileiro Lopes, o material médico hospitalar e os medicamentos do estoque só são suficientes até o final de semana. "Nossa situação é desesperadora", falou Lopes em entrevista exclusiva ao G1, na terça-feira (25). A Prefeitura disse que não vai se manifestar sobre o assunto.
De acordo com o contrato de gestão do hospital, a Prefeitura deveria repassar uma verba fixa de R$ 326 mil por mês, além de um valor variável de R$ 102,6 mil mensais que depende da comprovação do cumprimento dos requisitos previstos. A unidade recebe ainda R$ 700 mil do Ministério da Saúde para se manter. "Mas essa verba fixa só foi repassada até abril, quer dizer, maio e junho não recebemos nada. E a verba variável não é repassada desde janeiro. Isso inviabiliza integralmente todas as atividades", afirmou Lopes.
O hospital tem um custo fixo de R$ 983 mil por mês. "Em maio, por exemplo, as despesas de custeio - que inclui a despesa com os terceirizados - foi de R$ 195.248; e a despesa com folha de pagamento foi de R$ 787.798, ou seja, se tivéssemos recebido o repasse corretamente, ainda teríamos 13% para investimentos. Mas, desta forma, nem a folha de pagamento conseguimos cumprir", explicou o diretor.
O Hospital Escola de São Carlos (SP) atende 310 pessoas por dia e está com os 14 leitos adultos e os seis pediátricos totalmente ocupados. Com a falta de medicamentos, o atendimento terá que ser interrompido e os pacientes transferidos. "A gente tem que, minimamente, garantir assistência para esses internados e a nossa intenção é encaminhá-los à Santa Casa", falou Lopes.
Sobrevivência
Segundo o diretor executivo, desde que a Prefeitura deixou de repassar as verbas, a unidade sobrevive de empréstimos.
"Nós tínhamos um estoque para mais ou menos 45 dias. Ele foi consumido ao longo do período e agora dependemos de empréstimos de insumos, que são materiais hospitalares, mais medicamentos. Na verdade, estamos sobrevivendo apenas", disse.
Sem diálogo
A falta de diálogo com a Prefeitura deixa a situação ainda mais tensa. Na terça-feira (25), Lopes se reuniu com três vereadores da Comissão de Saúde e mais seis vereadores para expor o problema. "Falamos sobre o aumento da demanda, custeio e as questões de RH. Deixamos claro que o hospital não consegue sobreviver sem o repasse municipal. Agora nossa esperança é que o prefeito entenda que sem o repasse, não temos como continuar", relatou Lopes.
As contas são avaliadas trimestralmente, conforme o contrato, por uma comissão externa. A última, avaliada em janeiro, foi aprovada. Em abril, nós apresentamos, mas não tivemos o retorno se ele [o prefeito] teve ciência", falou. "E quando a gente pede oficialmente, ele simplesmente não responde aos ofícios", destacou. O prefeito Paulo Altomani (PSDB) não quis se manifestar ao G1 sobre o assunto.
Solução emergencial
Para o diretor, a única maneira de manter as portas do Hospital Escola abertas é fazer um novo estoque até o final da semana. "O que nós estamos pedindo é que o prefeito repasse o valor que ele bem entenda. A gente quer ouvi-lo, o que nós não podemos é ficar em um nível político de discussão", afirmou.
Além da falta de medicamentos, o salário dos funcionários foi pago até este mês com atraso. "E, ainda assim, estamos atrasando os encargos da folha de pagamento, como INSS, FGTS, e a gente vai ter que pagar multa. Então, a paralisação de atendimento não é vontade nossa, é necessidade em respeito à legislação de saúde. Não podemos fazer de conta que estamos cuidando da saúde. Ou fazemos um tratamento digno e decente, ou então fechamos as portas", finalizou.
Nota
Em nota, o reitor da UFSCar, Targino de Araújo Filho, confirmou que o projeto da universidade para a área está em risco e também reclama da falta de diálogo e de contribuição do prefeito Paulo Altomani para a resolução do problema.
(Suzana Amyuni, G1)