Via Folha de São Paulo
Por GABRIELA MANZINI
EDITORA-ADJUNTA DE "MUNDO"
27.06.2013
Jovens com acesso à internet, sem preferência por um partido nem experiência no ativismo político. Esse perfil dos participantes da marcha ocorrida na segunda-feira em São Paulo que foi traçado pelo Datafolha é também verdadeiro para os participantes da série de protestos na praça Taksim, em Istambul.
Pelo menos é o que sinaliza uma enquete on-line realizada com 3.000 ativistas turcos pela professora de mídia da Universidade Bilgi de Istambul, Esra Ercan Bilgiç, e a colega Zehra Kafkasli.
"Minha observação é a de que a maioria dos manifestantes é bem educada, secular, respeita a democracia, a liberdade, os direitos humanos e a diversidade cultural", afirma a professora.
Os protestos na Taksim começaram no fim de maio, por conta de um projeto do governo de derrubar árvores de um parque para construir um shopping. Depois de quatro dias de acampamento pacífico, no dia 31, a polícia decidiu expulsar os manifestantes à força, usando canhões d'água e bombas de gás lacrimogêneo.
O confronto chocou a sociedade, que reagiu e reforçou a manifestação --numa atitude que encontra paralelo, ao menos em parte, no reforço que o movimento pela redução da tarifa de ônibus em São Paulo teve após o enfrentamento entre manifestantes e a tropa de choque da PM ocorrido na quinta-feira (13), que deixou mais de 200 feridos, sendo 15 jornalistas.
Entre os ativistas turcos, 70% dizem não se sentir representados por nenhum partido político contra 15,3% que têm identidade política. Outros 14,7% se dizem indecisos. Em São Paulo, 84% disseram não ter partido. E, Istambul, 53,7% disseram protestar pela primeira vez. Em São Paulo foram 71%.
CAUSAS
O levantamento revela ainda que a maioria dos manifestantes turcos já não possui nenhuma conexão com a demanda original, que era a preservação do parque.
Conforme o levantamento acadêmico, 92,4% "concordam fortemente" que o protesto existe devido à atitude do premiê Recep Tayyp Erdogan e 96,7% "concordam fortemente" que o objetivo final do movimento é parar com a violência policial.
Entre os que responderam, 81,2% se consideram "defensores da liberdade", 64,5% se consideram "seculares" e, apesar do descolamento de qualquer partido político, 54,5% discordam da afirmação de que são "apolíticos".
"O movimento não terminou. Isso é só o começo", diz a professora, sobre a situação na Turquia. "As pessoas acabaram de começar a exigir liberdade e democracia. A juventude turca acabou de se politizar pela primeira vez desde o golpe de Estado dos anos 1980. A política turca nunca mais será a mesma."
Não há estimativa de quantas pessoas compareceram à Taksim.