Via Geenpeace
01.11.2013
Em carta ao público, ativista brasileira presa na Rússia agradece o apoio da população e pede que as pessoas façam sua parte na defesa ambiental
Presa há mais de um mês na Rússia, após um protesto pacífico contra a exploração de petróleo no Ártico, a ativista gaúcha do Greenpeace, Ana Paula Maciel, 31, pediu para divulgar uma carta sua ao público. “Nem tenho palavras para agradecer a todas as pessoas que se importam e que clamam por nossa liberdade. Gostaria de agradecer especialmente o apoio do governo e do povo brasileiro que têm se mostrado incansáveis em seu suporte pela minha liberdade”, escreveu.
Ana está entre os 28 ativistas e dois jornalistas que seguem em prisão preventiva na Rússia. Inicialmente, eles foram levados para a cidade de Murmansk, mas devem ser levados em breve para São Petersburgo.
Ontem, Ana Paula foi formalmente acusada de vandalismo, juntamente com todos os outros detidos. E, apesar de comunicado oficial do comitê de investigação russo de que retiraria a acusação de pirataria, isso ainda não aconteceu.
Em contato direto apenas com advogados e diplomatas, os ativistas têm tido poucas chances de se comunicar com o mundo externo. Quando isso acontece, as comunicações com a família têm sido priorizadas.
Na carta, datada de 23 de outubro, a gaúcha não deixou de fora a mensagem pela defesa ambiental. “Nosso planeta, o que chamamos de casa, o único que conhecemos com vida, está em crise e precisamos fazer algo individualmente, todos os dias”, ela pede. “Nós todos e cada um de nós somos responsáveis pela mudança! (...) Promete que vai tentar. E eu vou saber que esse mês presa não foi em vão”.
Veja a íntegra da carta a seguir:
Queridos leitores,
Me chamo Ana Paula e sou um dos 30 ativistas presos aqui na Rússia. Hoje faz um mês que nos retiraram de nosso amado navio Arctic Sunrise e, depois de dois dias em uma cadeia, três em outra, agora estou sentada em minha cela na penitenciária para onde nos trouxeram dia 29 de setembro. Tudo isso depois de um protesto pacífico onde queríamos chamar a atenção do mundo sobre os perigos de danos ambientais ao perfurar em busca de petróleo no Ártico.
Um mês que nossas vidas pararam, aqui sozinhos, tive tempo pra parar e pensar e lhes pergunto, caros leitores: quantos produtos derivados de petróleo você usou nesses último mês? Derivados de petróleo são usados para fabricar muitas coisas e, sendo “coisas” consumíveis, sofrem sob o efeito “procura e demanda” que as pessoas ávidas pelo consumo compram, utilizam e descartam com uma rapidez sem precedentes nos dias de hoje.
Nosso planeta, o que chamamos de casa, o único que conhecemos com vida, está em crise e precisamos fazer algo individualmente, todos os dias. Creio que não estariam indo procurar petróleo no Ártico se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais preocupados em ser do que ter, usaríamos menos petróleo, a natureza estaria sob menores riscos, os protestos pacíficos não seriam necessários, eu não estaria presa injustamente...
Nem tenho palavras para agradecer a todas as pessoas que se importam e que clamam por nossa liberdade. Gostaria de agradecer especialmente o apoio do governo e do povo brasileiro que têm se mostrado incansáveis em seu suporte pela minha liberdade. Clara Solon, da embaixada do Brasil na Rússia é quase uma segunda mãe para mim. Tem sido impecável em suas visitas, presença na corte, apoio psicológico e tudo o que está a seu alcance.
Gostaria de fazer um apelo ao mundo e aos que se importam: Salvem o Ártico! Consumam menos para serem mais, usem sacolas reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem produtos com menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros. Você não é o seu telefone celular, ele não diz nada sobre suas virtudes, você não precisa do último modelo. Separe o lixo, recicle, conserte o que quebrar em vez de comprar outro, informe-se. Existem tantas mil pequenas ações que podem ser feitas todos os dias para salvar o Ártico, a Amazônia, os recifes de corais e todo o resto. Basta escolhermos bem o que comprar. Nós todos e cada um de nós somos responsáveis pela mudança!
Promete que vai tentar. E eu vou saber que esse mês presa não foi em vão.
Com amor, Ana.
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