quinta-feira, 19 de março de 2015

Pesquisa do Inpa com camu-camu em pó revela ação eficiente na redução de gordura e de açúcar na corrente sanguínea

JC-Notícias/SBPC
18.03.2015

Os pesquisadores do Inpa Jaime Paiva Lopes Aguiar e Francisca das Chagas do Amaral Souza estudam, há mais de dez anos, o camu-camu em diferentes formas, principalmente, na forma em pó

Estudos realizados por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI) com o camu-camu (Myrciaria dubia) em pó, considerada a fruta mais rica em vitamina C do mundo, revelaram ação eficiente na redução de gordura e na redução de açúcar no sangue em adultos sadios.

Os pesquisadores Jaime Paiva Lopes Aguiar e Francisca das Chagas do Amaral Souza, do Laboratório de Físico-Química de Alimentos, vinculado à Coordenação de Sociedade, Meio Ambiente e Saúde (CSAS/Inpa), estudam há mais de dez anos o camu-camu em diferentes formas, principalmente, na forma de pó.

“Tais resultados demonstram o potencial benéfico da vitamina C (ácido ascórbico) e, principalmente, do camu-camu à saúde, pois as cápsulas do fruto mostraram-se mais eficientes na redução dos níveis de lipoproteínas comparadas ao ácido ascórbico sintético”, afirma Aguiar.

De coloração avermelhada semelhante à jabuticaba, o camu-camu é uma espécie nativa da Amazônia pertencente à família das Myrtaceae (a mesma da goiaba e do jambo) e é encontrada naturalmente à beira dos rios e lagos da região amazônica. É um arbusto de 1,5 a 4 metros de altura e apresenta frutos de forma arredondada de 1 a 4 centímetros de diâmetro.

O camu-camu, também conhecido como caçari ou araçá d’água, tem sido foco de inúmeros estudos por apresentarem significativo conteúdo de substâncias antioxidantes. Entre os estudos, destaca-se a dissertação de mestrado em Ciências de Alimentos, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), da nutricionista Bianca Languer Vargas, intitulada “Efeito das cápsulas de camu-camu em pó sobre a glicemia e o perfil de adultos saudáveis” publicada na Revista Cubana de Plantas Medicinales.

O estudo envolveu grupos que receberam cápsulas de camu-camu em pó, registrando-se aumento significativo nos níveis séricos de ácido ascórbico e queda significativa nos valores de glicemia, do colesterol total e, também, do LDL (o “colesterol ruim”). No grupo que recebeu cápsulas de vitamina C sintética houve diminuição significativa apenas na glicemia de jejum. Em ambos os grupos de estudo, registrou-se tendência de diminuição nos triglicerídeos.

Trabalhos recentes comprovam o alto teor de vitamina C no camu-camu  apresentando concentrações que podem variar entre 800 e 6.000 mg em cada 100g de fruto. “Este teor pode ser até três a quatro vezes superior ao encontrado na acerola (Malpighia glabra L.), que é referenciada como alimento fonte de vitamina C”, ressaltou o pesquisador.

Para Aguiar, o consumo da fruta incorporada a uma dieta equilibrada, rica em fibras e micronutrientes, pode constituir uma alternativa promissora de manutenção da boa saúde, tanto para pessoas saudáveis quanto para as portadoras de doenças cardiovasculares.

Potencial econômico

Desde 1980, o Inpa estuda o camu-camu em vários aspectos: agronômicos, biológico e tecnológico. O pesquisador do Laboratório de Melhoramento de Fruteiras, Kaoru Yuyama, que estuda as possibilidades econômicas do plantio do camu-camu, já conseguiu domesticar o fruto, fez melhoramento genético da semente e trouxe a produção típica das várzeas e curso dos rios da Amazônia para a terra firme.

O pesquisador conta que o cultivo do camu-camu em terra firme apresenta algumas vantagens em relação às plantas nativas nascidas espontaneamente na beira de rios. Uma delas é o período reprodutivo que se estende ao longo do ano e a colheita é feita nas épocas de maior concentração de vitamina C e alto teor de antocianina. Esta substância atua como antioxidante, protegendo contra doenças cardiovasculares e de circulação, podendo, também, prevenir alguns tipos de câncer.

Segundo Yuyama, a fruta é pouca conhecida pelos brasileiros, mas bastante consumida em diferentes países como complemento nutricional e como fitoterápico no tratamento da depressão e no fortalecimento do sistema imunológico.

“O camu-camu apresenta um alto potencial a ser explorado como um alimento funcional (aquele que é benéfico ao organismo) na região amazônica e, também, nos grandes mercados como a Ásia, Europa e Estados Unidos”, ressalta o pesquisador.

Para pesquisador, o cultivo de camu-camu é viável no amazonas, o que emperra “é a falta de incentivo à produção”. O camu-camu leva três anos para começar a produzir, nesse período, o pesquisador conta que pode-se  fazer um consórcio de cultivo com outras espécies de cultura para da um retorno econômico mais rápido, como o feijão ou a melancia.

(Luciete Pedrosa/Ascom Inpa)