quinta-feira, 28 de abril de 2016

Niéde Guidon desabafa sobre possível fechamento do Parque Nacional Serra da Capivara : “perdi meu tempo”

JC-Notícias/SBPC
27.04.2016

O Parque Nacional Serra da Capivara já teve 400 trabalhadores. Dos mais de cem guardas, restam cerca de 30. Dos 270 funcionários mantidos pela Fumdham, 90% já foram demitidos

A crise financeira que ameaça o Parque Nacional Serra da Capivara é motivo de frustração para a arqueóloga e diretora da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), Niède Guidon, que voltou a fazer desabafos. Em entrevista, a arqueóloga se mostrou indignada com a falta de recursos para a manutenção do parque.

“O diretor do ICMBio esteve aqui e disse que o problema é que não há recursos, pois eles estão sem nada. Não sei quando isso vai mudar, porque a situação econômica do País está muito difícil. O que eu estou vendo é que realmente eu perdi meu tempo. Vivia em Paris, era professora lá e deixei tudo para vir para cá, acreditando que o potencial desse parque era tanto que conseguiríamos mudar toda a região”, desabafa a arqueóloga.

O Parque Nacional Serra da Capivara- mantido com doações e recursos do Governo Federal através de convênios com o ICMBio, Instituto Chico Mendes de Biodiversidade- já teve 400 trabalhadores. Dos mais de cem guardas, restam cerca de 30. Dos 270 funcionários mantidos pela Fumdham, 90% já foram demitidos.

“O parque, por iniciativa da Fumdham, mantinha 28 guaritas de segurança. Essas guaritas eram ocupadas por mulheres da região, que faziam a guarda do parque em três turnos e geralmente eram duas mulheres por turno. Essas guaritas foram reduzidas para seis. O investimento em pesquisa e pessoal que possa atuar na segurança e conservação é imprescindível e isso não está acontecendo”, lamenta Rita Andrade, conselheira e pesquisadora da Fumdham

“É muito triste passar por essa experiência. Ao invés de evoluir, as coisas estão ficando piores. Houve um tempo em que a Fumdham tinha uma equipe de conservação com 19 pessoas da região e hoje infelizmente só restaram duas pessoas, pontuando vários problemas. Enfrentamos vários problemas para que essa arte seja conservada: desde o cupim que faz galeria sobre as pinturas à salinização do suporte, desplacamento…Para tudo isso há soluções para prolongar a vida dos painéis”, reitera a pesquisadora Eliete Silva.

O Parque Nacional Serra da Capivara se estende por mais de 200 quilômetros, ocupando quatro municípios do Sul do Piauí. São mais de 1.300 sítios arqueológicos, sendo 900 com pinturas rupestres. Na área já foram catalogadas mais de 30 mil figuras rupestres, a maior concentração descoberta no planeta. Só no Boqueirão da Pedra Furada existem mais de 1.100. No local foram descobertos ainda os vestígios mais antigos da presença do homem no continente americano, ferramentas confeccionadas com pedras, datadas de 100 mil anos.

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