sábado, 11 de maio de 2013

São Paulo, capital do cinema japonês

Via Agência FAPESP
Por Silvia Campolim
08.05.2013

Agência FAPESP – O bairro japonês de São Paulo – Liberdade – tem sua origem estreitamente associada ao cinema japonês e ao surgimento das salas de exibição de filmes na região – que apresentavam produções tão diversas quanto histórias de samurai e da Yakuza (a máfia japonesa), passando por melodramas e obras intimistas, consideradas cults por cinéfilos e cineastas brasileiros.

Até meados do século passado, a população imigrante e seus descendentes nikkeis haviam formado o primeiro “bairro japonês” do centro, ao redor da rua Conde de Sarzedas, e distribuíam-se por vários bairros da cidade, como Pinheiros, Campo Limpo, Itaquera e Jabaquara. A ordem para que os japoneses deixassem suas casas, durante a Segunda Guerra Mundial, no entanto, dispersou a população desse primeiro bairro oriental. Esses imigrantes foram perseguidos e cerceados durante o conflito mundial, por causa do alinhamento do Japão com a Alemanha e os demais países do Eixo.

O livro do antropólogo Alexandre Kishimoto Cinema Japonês na Liberdade conta agora os detalhes dessa história. “A inauguração em julho de 1953 do cine Niterói, na rua Galvão Bueno, uma sala de 1.200 lugares, foi responsável pela formação de todo um comércio japonês na região, que amadureceu com o surgimento, nos anos seguintes, de outras salas, como os cines Tokyo, Nippon e Joia, nas imediações, dando origem ao que hoje conhecemos como Liberdade”, afirmou Kishimoto, pós-graduado pela Universidade de São Paulo (USP).

O livro foi lançado em março pela Editora Estação Liberdade, com apoio da FAPESP e da Fundação Japão. Desenvolvido originalmente como tese de mestrado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), a obra do nikkei Kishimoto trata da história dessas salas de cinema na Liberdade, de sua importância para a comunidade japonesa e seus descendentes e para o público de cinema, críticos e cineastas brasileiros, como Walter Hugo Khouri (1929-2003), Carlos Reichenbach (1945-2012), Roberto Santos (1928-1987) e João Batista de Andrade, entre outros.

“Eu tinha essa memória de quando era criança, de ser levado por meus pais a algumas dessas sessões nos cinemas da Liberdade, em companhia dos meus avós, isso já na década de 1980”, disse o autor. Ele contou que teve a ideia da tese em 2003, ao participar de um trabalho de organização de videotecas de filmes brasileiros em escolas públicas da zona leste de São Paulo. “Para obter os filmes que rodariam nas videotecas tive de conversar com cineastas como Carlos Reichenbach, diretor de Alma Corsária, e João Batista de Andrade, de O homem que virou suco, e soube que eram assíduos frequentadores daquelas salas na Liberdade, entre 1950 e 1960. Foi aí que percebi como esses cinemas foram importantes não apenas para o público japonês, mas também para os cineastas, críticos e cinéfilos da cidade de São Paulo.” CONTINUA!