sábado, 1 de fevereiro de 2014

Alguma coisa está fora da ordem


JC e-mail 4885, de 31 de janeiro de 2014
Alguma coisa está fora da ordem


Artigo de Gervásio Paulus publicado no Zero Hora de 31/01. O aquecimento global representa enorme desafio para a humanidade


Notícias de eventos climáticos extremos, registrados em diferentes regiões do planeta, têm sido cada vez mais recorrentes e frequentes. Atualmente, as informações dão conta de nevascas fora do comum no hemisfério norte e altas temperaturas no sul.

Segundo o glaciologista Jefferson Cardia Simões, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera e professor do Instituto de Geociências da UFRGS, nunca a concentração de gases que contribuem para a ampliação do efeito estufa foi tão alta quanto no presente. A rigor, como explica Simões, o problema não reside na ocorrência em si do efeito estufa, já que se trata de um fenômeno natural que existe há muitos milhares de anos, e sim na intensificação deste, decorrente da ação humana, principalmente após o início da Revolução Industrial, levando a um aumento de 40% na concentração do CO2 nos últimos 200 anos.

De acordo com informações preliminares do relatório a ser divulgado em abril pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a menos que o mundo aja agora para frear as emissões de gases do efeito estufa (GEEs), os efeitos negativos do aquecimento global representarão enormes desafios para a humanidade ainda neste século, tornando-se cada vez mais caros e difíceis de serem resolvidos.

Até mesmo o sisudo Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, passou a colocar o tema das mudanças climáticas na agenda central do encontro anual. Conforme o Relatório de Riscos Globais divulgado pela entidade, os eventos climáticos extremos são apontados como um dos riscos mais prováveis para o nosso planeta, podendo criar choques sistêmicos em escala global. As mudanças climáticas também foram consideradas como um risco relevante, sendo classificadas como o segundo maior em possíveis impactos. O relatório destaca a grande correlação entre as mudanças climáticas e a frequência dos eventos climáticos extremos, e sugere que os dois juntos talvez sejam o maior risco enfrentado hoje, sob diversos aspectos.

Muitas das medidas anunciadas para frear as mudanças climáticas causadas pela ação humana são paliativas. Frente à gravidade da situação e ao iminente risco de colapso do processo civilizatório, são necessárias ações profundas, que alterem o paradigma do atual modelo de desenvolvimento hegemônico, altamente energívoro e baseado no consumo ilimitado dos bens naturais que são finitos.

Gervásio Paulus é diretor técnico da Emater/RS

(Zero Hora)