JC e-mail 4891, de 10 de fevereiro de 2014
Fósseis mostram altruísmo de humano antigo
Indivíduo sem dentes provavelmente recebia ajuda para se alimentar, segundo estudo
Dentes sempre foram um grande sucesso entre peritos criminais e paleontólogos, pois costumam ser a melhor pista sobre algo que aconteceu no passado, como um crime com um corpo carbonizado, ou, no caso destes cientistas que estudam a evolução humana, no passado bem, bem mais distante: cerca de 1,77 milhão de anos atrás.
Por isso, a comunidade que xereta a vida dos mais antigos ancestrais humanos ficou particularmente excitada com uma recente análise de fósseis de mandíbulas provavelmente pertencentes a membros do gênero Homo erectus achados em Dmanisi, na Geórgia, com essa longeva idade.
Uma delas pertencia a um precoce usuário de palito de dentes. Ele era tão fã da coisa que isso afetou sua mandíbula, deixando o dano visível aos cientistas quase dois milhões de anos depois. Já outra pertencia um senhor (ou senhora) de idade, quase banguela, e que conseguiu sobreviver muitos anos apesar da sua péssima dentição.
O usuário de palito é basicamente uma curiosidade científica, um antigo exemplo dessa prática nada elegante, mas disseminada pelo planeta há milênios.
Já a pessoa sem dentes prova algo mais interessante: já nesse época, seres humanos cuidavam uns dos outros. Ele (ou ela) só pôde sobreviver porque outros membros do grupo pré-mastigavam a comida para ele (ou ela), ou davam outro jeito de torná-la mais mole e comestível.
Foi uma prova antiga do começo do altruísmo entre seres humanos, segundo os autores do estudo, publicado no periódico "PNAS".
A pesquisa deixa, contudo, uma grande dúvida. Está claro que os indivíduos achados na Geórgia são da mesma espécie. Mas diferenças como as que eles mostram entre si já foram usadas para identificar novas espécies de humanos ancestrais. Aliás, muitas espécies de hominídeos foram praticamente descritas apenas com base em poucos dentes e ossos.
(Ricardo Bonalume Neto/Folha de SP)
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