JC e-mail 4903, de 26 de fevereiro de 2014
Cidades se adaptam para enfrentar mudanças climáticas
A transformação é complexa, mas obrigatória. Nas próximas décadas, ao que tudo indica, o Rio e todos os centros urbanos do planeta serão obrigados a conviver com consequências inevitáveis das mudanças climáticas, como temperaturas extremas, chuvas cada vez mais torrenciais e grandes inundações. Se eventos antes excepcionais se tornarem de fato corriqueiros, as cidades despreparadas correrão o risco de entrar em colapso. Imagine enchentes constantes inundando estações de metrô e hospitais, bairros superpovoados por realocações mal planejadas e um sol mais agressivo a cada verão. Como a maior parte da atual infraestrutura não foi originalmente pensada para suportar este impacto, a palavra do momento é adaptação. Não há tempo a perder: ou as cidades reinventam seu desenho urbano ou os prejuízos serão ainda maiores.
- Diversos estudos mostram que o custo será menor se as cidades anteciparem as mudanças que virão nas próximas décadas, em vez de esperarem por elas - lembra o climatologista Carlos Nobre, secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU.
Cada cidade pede uma estratégia diferente, por isso a necessidade de se mapear as diferentes vulnerabilidades. No caso do Rio, um aumento do nível do mar, por exemplo, significaria a realocação de pelo menos 500 mil pessoas. Mesmo que a elevação demore algumas décadas para acontecer, um trabalho de adaptação nos sistemas de diques e na mudança das ocupações próximas ao oceano não é nada trivial. A cidade conta hoje com 13 mil famílias em áreas de risco - segundo cálculo da prefeitura - e este número só deve aumentar no futuro. Em 50 ou 100 anos, a água deverá engolir diversas áreas ocupadas, mudando completamente a paisagem da cidade. Já em capitais como São Paulo, porém, as alterações climáticas já podem ser observadas neste momento, com o aumento do volume e da frequência da chuvas sendo provocados pela intensa urbanização.
- São Paulo é um caso pedagógico - opina Nobre. - Décadas atrás, a cidade não tinha pensado sua infraestrutura para fenômenos de chuvas mais intensas, e os alagamentos não param de crescer. Nos últimos anos, São Paulo trabalhou com medidas imediatas e emergenciais, e agora entendeu que é preciso uma alteração profunda na infraestrutura. É muito complexo pensar uma cidade de forma diferente, não apenas do ponto de vista de saneamento, mas também da mobilidade.
CONTINUA!