domingo, 1 de março de 2009
Perdeu o Brasil. Perdeu a televisão brasileira. Perdemos todos nós.
Num sábado à tarde, e isso deve estar fazendo uns quatro anos, depois de muita insistência, resolvi acompanhar uma colega, que estava hospedada na minha casa, a uma conferência do físico americano Alan Wallace . Em um dado momento da conferência, bem no final, precisei sair. E não consegui voltar, tamanha era a quantidade de pessoas que abarrotavam aquele auditório. Fiquei olhando livros. Livros infantis, que estavam sendo vendidos por lá.
De repente, dei de cara com a moça. A moça que, mesmo sem saber, estava me ajudando a sair de uma profunda depressão. Perguntei se ela era ela. Era. Era ela. Certa de que jamais a veria de novo, aproveitei para lhe dizer tudo o que pensava sobre o programa que comandava. Aproveitei para dizer da minha perplexidade em ver uma profissional de tamanho quilate, de tamanha competência, de tamanho gabarito, de tamanha sensibilidade, perdida em tardes sorrateiras, num programa que deveria ser veiculado em horário nobre, para que essa sociedade amorfa em que nos transformamos, pudesse ter a chance de refletir, se espelhar, olhar para dentro de si, se enxergar. E mudar. Continuei falando e falando.
Nos despedimos. A moça me deu o e-mail dela e passamos a nos conhecer através do poetar, quando este era apenas e-mails entre amigos. Só bem mais tarde, o poetar se transformou neste blog.
Hoje, a moça está se despedindo . O nome da moça? Regina Volpato. O nome do programa? Casos de Família. Um programa cuja miopia dos intelectuais impediu de ver, ali, todas as tardes, durante cinco anos, o novo. Um programa cuja miopia dos dirigentes midiáticos impediu de perceber, ali, todas as tardes, durante cinco anos, a vital importância que desempenhava.
Casos de Família, sob o comando de Regina Volpato, com uma competência extrema, eviscerou, expôs para quem quisesse, e para quem tivesse olhos para ver, o nosso povo, a realidade cruel do nosso povo, a realidade cruel em que todos nós estamos imersos. Mostrou também esse Brasil tão brasileiro, que se nega a crescer, a se tornar uma Nação, e prefere continuar sendo o moleque irresponsável, sem rédeas, sem futuro, à semelhança da maioria de nossa elite dirigente.
Casos de Família, sob o comando de Regina Volpato , uma mulher determinada, que banca as suas crenças , vai deixar saudade. Muita saudade. Perdeu o Brasil. Perdeu a televisão brasileira. Perdemos todos nós.
Adelidia Chiarelli