JC e-mail 4680, de 08 de Março de 2013.
Hidrelétricas na Amazônia: desenvolvimento para quem?
Conheci a
cidade de Tucuruí em 1988, quatro anos depois de inaugurada a
hidrelétrica que interrompeu o fluxo natural do rio Tocantins. Era,
então, um espaço populoso, deteriorado e caótico, impressão que se
amplificou ao visitar o núcleo urbano da construtora Camargo Correa,
protegido por muros, guaritas e homens armados, com casas amplas e
ajardinadas, com um confortável hotel para os hóspedes ilustres e com
uma bela vista do vertedouro e do lago formado pela barragem. No
tour
pela usina, um funcionário da Eletronorte orgulhosamente apontou para
uma ilhota, informando que a empresa instalara ali um banco genético das
espécies vegetais que ocorrem (ocorriam?) na região, sem nada
esclarecer sobre as copas de árvores mortas que emergiam por todo o
imenso lago, visão que lembra, de imediato, em qualquer espectador, um
cemitério repleto de cadáveres mal enterrados. Inquirido por que as
árvores não foram retiradas, o funcionário tergiversou (alguém ainda
lembra do escândalo Capemi?).
Os danos sociais e ambientais - para não falar das questões éticas e
nem da corrupção - que as grandes obras de infraestrutura provocam na
Amazônia já foram plenamente demonstrados por muitos pesquisadores e
jornalistas, assim como também já foi comprovado que os efeitos
benéficos desses empreendimentos não se localizam na região, isto é, as
promessas de desenvolvimento e oportunidades são cumpridas a muitos
quilômetros de distância, às vezes, em outros países e continentes. Na
região ficam apenas os
royalties (a maior parte dos impostos é
desonerada pelo governo federal), o passivo ambiental, alguns empregos
disputados por hordas de imigrantes e muita miséria e violência. Esse é
um efeito perverso, mas não fortuito. A transferência de matéria-prima e
energia da Amazônia para outros lugares faz parte de um projeto
colonizador gestado na ditadura militar (1964-1985), que define a região
como provedora de recursos para o Brasil - e somente isso.
Infelizmente, finda a ditadura há quase 30 anos, esta ainda é a visão
que prevalece nos círculos de poder mais importantes de Brasília.
Continua