JC e-mail 4875, de 13 de dezembro de 2013
Alerta de um Brasil mais velho
Artigo de Gerson Reis* publicado no Zero Hora. Um outro fenômeno veloz também pegou carona no avanço etário: o crescimento das doenças
Há pouco mais de uma década, a tendência estratégica da saúde no Brasil vicejava sob a corrente da "desospitalização", termo que significou, na prática, a redução de investimentos em estabelecimentos hospitalares e a aposta compensatória em home care e cuidadores, investindo em medicina preventiva. Nesta toada, em que não se confirmaram as previsões otimistas, amparadas nos avanços tecnológicos da Medicina, sucatearam-se hospitais e extinguiram-se leitos. Mais preocupante ainda: fecharam-se as portas de nada menos que 286 hospitais no país em apenas cinco anos, de 2007 a 2012 _ fato que explica o aumento geométrico das filas crescentes.
Apenas no segmento dos planos de saúde privados, o país registra um déficit de 13,7 mil leitos (que significam um investimento de R$ 4,3 bilhões). Esta demanda reprimida é calculada considerando-se um crescimento normal de 2,1% do setor ao ano. Entretanto, se ele dobrar, confirmando-se certa tendência, a necessidade de novos leitos saltará para 23 mil unidades, o que equivale a uma aplicação de R$ 7,3 bilhões.
Ocorre que, aparentemente, não se suspeitava do fenômeno do súbito envelhecimento dos gaúchos em particular (e dos brasileiros em geral), que surpreende pela velocidade da alteração demográfica registrada na última década, batendo qualquer taxa anterior já conhecida no Ocidente.
O aumento do número de idosos, a redução do volume de jovens, a diminuição da taxa de natalidade (caiu para 1,6 no Estado) e a ampliação da expectativa média de vida (passou de 72 anos para 74,6 anos no RS) significam que, além de velhos, estamos vivendo mais, por um maior período de tempo.
Esta rápida reversão no envelhecimento, remetendo para um cenário com população majoritária de idosos, implica decorrências sérias, e não só na saúde, que precisamos avaliar imediatamente para refazer planejamentos futuros, atualizados por uma visão de longo prazo, mas com iniciativas de curtíssima urgência. Pois acontece que um outro fenômeno igualmente veloz também pegou carona no avanço etário: o crescimento das doenças que ainda acompanham o envelhecimento humano, principalmente aqueles males crônicos, degenerativos e mais graves, que necessitam de obrigatória internação hospitalar.
E onde estão os hospitais tão necessários agora? Como se faz para reverter o paradigma hoje comprovadamente equivocado da desospitalização? É com a busca de uma resposta concreta palpável a esta indagação essencial que temos que lidar, urgentemente desde agora, para que o futuro imediato não nos penalize irreparavelmente com uma longevidade doentia.
* Gerson Reis é médico.
(Zero Hora)