Prisioneiros do próprio impudor, PSDB e PT baniram do debate eleitoral de 2010 um tema antes obrigatório: corrupção.
Desapareceu da cena política brasileira a presunção de superioridade moral. As legendas que polarizam a disputa integraram-se à perversão comum a todas as siglas.
Nos últimos 16 anos -dois mandatos de Fernando Henrique e dois de Lula- o brasileiro assistiu a uma notável flexibilização das fronteiras éticas e ideológicas.
A "social-democracia" tucana e o "socialismo" petista provaram-se capazes de ceder a todas as tentações -da maleabilidade nos costumes às alianças esdrúxulas.
Impossível, por exemplo, mencionar o mensalão sem especificar o sobrenome. Há o mensalão do PT, o mensalão do PSDB mineiro, o mensalão do DEM de Brasília.
Na composição das alianças, a integridade dos ovos não vale mais nada. Só importa o proveito da omelete, convertida em tempo de TV.
Os candidatos nem se preocupam em varrer as cascas para baixo do tapete. Acham que não devem nada para o eleitor, muito menos explicações.
A união do impensável com o inacreditável não assusta mais. Até a imprensa trata as coligações com notável indulgência.
Sobre o pano de fundo da decomposição, a ex-militante Dilma Rousseff é uma nova mulher. Dá as mãos a José Sarney, um sobrevivente da ditadura que ela se jacta de ter combatido.
José Serra abraça Orestes Quércia. E esquece que, junto com FHC, Franco Montoro e Mario Covas, deixara o PMDB para não chamar de companheiro quem agora admite como aliado. Continua
segunda-feira, 7 de junho de 2010
País assiste à flexibilização das fronteiras ideológicas
Por Josias de Souza / Ilustração: Angeli - 06.06.2010