terça-feira, 2 de julho de 2013
Tratando a fome oculta
Entrevista com o médico Hélio Vannucchi
Via Doce Revista
SAÚDE & BEM ESTAR
22.10.2012
Confeitos fortificados não constituem a melhor opção para aplacar deficiências nutricionais
Tendência seguida por fabricantes de candies e guloseimas, a fortificação de linhas com vitaminas e minerais não conta com amplo respaldo das comunidades científica e médica para os quais outras categorias de alimentos são melhor opção para combater problemas de deficiência alimentar. A discussão sobre alimentos fortificados e suplementos ganha espaço entre especialistas e pesquisadores. Para fomentar temas como esses, a ala brasileira do Ilsi (International Life Sciences Institute) promoveu recentemente em Brasília (DF) o VI Fórum de Discussões sobre Alimentos Fortificados e Suplementos. “Além de discutir a chamada ‘fome oculta’, também foram analisados quadros em que o estilo de vida atual influencia o aumento do consumo de alimentos ricos em gordura e pobres em micronutrientes. É um cenário que merece atenção, pois casos graves de deficiência podem levar ao retardo de crescimento, anemia, alteração do desenvolvimento, cegueira e até a morte”, destaca o médico e nutrólogo Hélio Vannucchi, representante local do Ilsi e coordenador científico do evento. Nesta entrevista exclusiva à Doce Revista (DR), ele analisa o quadro atual de deficiência alimentar e aponta as possíveis soluções para mudanças nesse cenário.
DR – O que é a fome oculta e a que ela é associada?
Dr. Hélio Vannucchi – A fome oculta, ou deficiência marginal, é uma carência não aparente de um ou mais micronutrientes. Os problemas relacionados com a deficiência mais comuns são a de vitamina A, de iodo, de ferro e anemia associada e de zinco. Há grande probabilidade de fome oculta ligada a refeições rápidas do tipo fast-food, alimentos congelados e industrializados, ricos em gorduras e pobres em micronutrientes. Além disso, esse estilo evidencia o baixo consumo de frutas, verduras e legumes, alimentos que fornecem nutrientes importantes para o organismo, como fibras, vitaminas e minerais.
DR – Qual a incidência do fenômeno na população brasileira?
Dr. Hélio Vannucchi – No Brasil, a anemia por deficiência de ferro em crianças gira em torno de 30%. Os idosos apresentam redução de 21,5% na ingestão calórica, comparada a adultos jovens. Mais: 85% das mulheres acima de 14 anos não consomem a quantidade adequada de magnésio e 95% das mulheres, acima de 60 anos, não consomem a quantidade adequada de cálcio e vitamina D por dia. Quase 100% da população brasileira não consomem quantidades adequadas de vitamina E.
DR – Quais seriam as principais providências para se atacar o problema?
Dr. Hélio Vannucchi – O Ministério da Saúde instituiu o Programa de Fortificação de Alimentos, pelo qual cada 100g de farinha de trigo e de milho deve conter 4,2 mg de ferro e 150 mcg de ácido fólico. Na realidade latino-americana, o suplemento como primeira opção constitui o recurso mais eficaz para conseguir resultados, a curto prazo, com efeitos protetores para os setores mais vulneráveis da população, até que seja possível se implantar políticas educativas e alimentares com uma perspectiva diferente. Em algumas situações, pode ser mais barato e mais efetivo aumentar a fortificação. Em outras, pode ser mais barato e mais efetivo promover a suplementação de alimentos/dietas.
DR – Quais estratégias estão dando certo?
Dr. Hélio Vannucchi – O Ministério da Saúde promove o Programa Nacional de Suplementação de Ferro para Crianças, Gestantes e Mulheres Após o Parto. Outra tacada é o Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A em áreas de risco. Mas nenhuma das estratégias por si só representa uma solução integral às deficiências de micronutrientes, porque a alimentação é um problema que excede o marco sanitário, sendo também social. A fome oculta é primordialmente uma epidemia que deve ser abordada com políticas de saúde pública.
DR – Guloseimas e confeitos (balas, chicles) fortificados com vitaminas e minerais de alguma forma ajudam a aplacar as deficiências nutricionais?
Dr. Hélio Vannucchi – A escolha dos veículos a serem fortificados depende das condições regionais e dos problemas a serem solucionados e haverá de ser muito criteriosa. Com o crescente aumento da obesidade no mundo todo e também no Brasil, é preciso escolher veículos que não ofereçam nenhum adicional energético e assim guloseimas e confeitos não devem merecer a escolha.
SAÚDE & BEM ESTAR
22.10.2012
Confeitos fortificados não constituem a melhor opção para aplacar deficiências nutricionais
Tendência seguida por fabricantes de candies e guloseimas, a fortificação de linhas com vitaminas e minerais não conta com amplo respaldo das comunidades científica e médica para os quais outras categorias de alimentos são melhor opção para combater problemas de deficiência alimentar. A discussão sobre alimentos fortificados e suplementos ganha espaço entre especialistas e pesquisadores. Para fomentar temas como esses, a ala brasileira do Ilsi (International Life Sciences Institute) promoveu recentemente em Brasília (DF) o VI Fórum de Discussões sobre Alimentos Fortificados e Suplementos. “Além de discutir a chamada ‘fome oculta’, também foram analisados quadros em que o estilo de vida atual influencia o aumento do consumo de alimentos ricos em gordura e pobres em micronutrientes. É um cenário que merece atenção, pois casos graves de deficiência podem levar ao retardo de crescimento, anemia, alteração do desenvolvimento, cegueira e até a morte”, destaca o médico e nutrólogo Hélio Vannucchi, representante local do Ilsi e coordenador científico do evento. Nesta entrevista exclusiva à Doce Revista (DR), ele analisa o quadro atual de deficiência alimentar e aponta as possíveis soluções para mudanças nesse cenário.
DR – O que é a fome oculta e a que ela é associada?
Dr. Hélio Vannucchi – A fome oculta, ou deficiência marginal, é uma carência não aparente de um ou mais micronutrientes. Os problemas relacionados com a deficiência mais comuns são a de vitamina A, de iodo, de ferro e anemia associada e de zinco. Há grande probabilidade de fome oculta ligada a refeições rápidas do tipo fast-food, alimentos congelados e industrializados, ricos em gorduras e pobres em micronutrientes. Além disso, esse estilo evidencia o baixo consumo de frutas, verduras e legumes, alimentos que fornecem nutrientes importantes para o organismo, como fibras, vitaminas e minerais.
DR – Qual a incidência do fenômeno na população brasileira?
Dr. Hélio Vannucchi – No Brasil, a anemia por deficiência de ferro em crianças gira em torno de 30%. Os idosos apresentam redução de 21,5% na ingestão calórica, comparada a adultos jovens. Mais: 85% das mulheres acima de 14 anos não consomem a quantidade adequada de magnésio e 95% das mulheres, acima de 60 anos, não consomem a quantidade adequada de cálcio e vitamina D por dia. Quase 100% da população brasileira não consomem quantidades adequadas de vitamina E.
DR – Quais seriam as principais providências para se atacar o problema?
Dr. Hélio Vannucchi – O Ministério da Saúde instituiu o Programa de Fortificação de Alimentos, pelo qual cada 100g de farinha de trigo e de milho deve conter 4,2 mg de ferro e 150 mcg de ácido fólico. Na realidade latino-americana, o suplemento como primeira opção constitui o recurso mais eficaz para conseguir resultados, a curto prazo, com efeitos protetores para os setores mais vulneráveis da população, até que seja possível se implantar políticas educativas e alimentares com uma perspectiva diferente. Em algumas situações, pode ser mais barato e mais efetivo aumentar a fortificação. Em outras, pode ser mais barato e mais efetivo promover a suplementação de alimentos/dietas.
DR – Quais estratégias estão dando certo?
Dr. Hélio Vannucchi – O Ministério da Saúde promove o Programa Nacional de Suplementação de Ferro para Crianças, Gestantes e Mulheres Após o Parto. Outra tacada é o Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A em áreas de risco. Mas nenhuma das estratégias por si só representa uma solução integral às deficiências de micronutrientes, porque a alimentação é um problema que excede o marco sanitário, sendo também social. A fome oculta é primordialmente uma epidemia que deve ser abordada com políticas de saúde pública.
DR – Guloseimas e confeitos (balas, chicles) fortificados com vitaminas e minerais de alguma forma ajudam a aplacar as deficiências nutricionais?
Dr. Hélio Vannucchi – A escolha dos veículos a serem fortificados depende das condições regionais e dos problemas a serem solucionados e haverá de ser muito criteriosa. Com o crescente aumento da obesidade no mundo todo e também no Brasil, é preciso escolher veículos que não ofereçam nenhum adicional energético e assim guloseimas e confeitos não devem merecer a escolha.