quarta-feira, 7 de maio de 2014
Estatizaram o relezinho, artigo de Daniel Clemente
Via EcoDebate
07.05.2014
[EcoDebate] Depois de consumir grifes caríssimas, se banhar com perfumes importados, se embebedar de rótulos renomados, frequentar os camarotes antes destinados a outras camadas, já tinha chegado a hora de ocupar os templos de consumo para impor a nova ordem do mercado crediário, os chamados rolezinhos levou a sensação de ascensão social aos jovens da periferia e desespero á normalidade da classe média, acostumada com a democracia das vendas e com o apartheid do convívio.
Este fenômeno social mediatizado pela aquisição de etiquetas forjou uma consciência de prosperidade financeira a milhares de adolescentes, que mesmo sem alteração significativa em sua condição social, tal como educação de qualidade, saúde pública, moradia digna, emprego estável e segurança eficaz, os novos consumidores encontraram nos shoppings centers o local perfeito para desfrutar seus fetiches mercadológicos. Porém, na sociedade do consumo, a fonte do dinheiro é muito menos importante do que a origem das pessoas, se aceita o consumo nega-se a aproximação.
Alegando falta de espaços públicos para entretenimento e o desejo de participar de uma sociedade que sempre foi negligenciada aos não consumidores, os rolezinhos representavam á conquista de um território antes hostil, e hoje dependente desta classe emergente baseada no consumo. Mas como impedir que jovens periféricos frequentassem os shoppings centers sem afastar o seu potencial de consumo? A solução foi estatizar o rolezinho.
Como qualquer outro movimento social que levanta uma bandeira a ser defendida, os rolezinhos também fizeram emergir seus líderes, e portando legitimidade entre seus seguidores, os jovens foram convidados á visitar a Capital Federal e participar de uma reunião com a Presidente da República Dilma Rousseff. Lá em Brasilia, a magia do poder fascina, envolve, apaixona, cega, corrói e transforma, um novo dinamismo já estava elaborado, e o rolezinho passaria a ter uma esteira de academia sob seus pés para que suas caminhadas não saíssem mais do lugar.
Do vislumbre da sociedade de consumo para as amarras da sociedade que condena, por conta e custo governamental, caminhões trio elétricos foram enviados as periferias para que os rolezinhos fossem praticados distante dos bairros de classe média, o desejo de passear entre os playboys e ser bem recebido nos shoppings foi substituído por palanque e holofotes. O movimento foi cooptado e estatizado, a ordem da desigualdade mantida e os lideres viraram ferramentas eleitoreiras nas mãos de políticos acostumados a negociar distribuindo privilégios e transformando lideranças em fantoches.
Em comemoração a esta conquista do movimento, em cima de um caminhão para showmício, os novos líderes de repercussão nacional declamavam uma velha canção, mostrando como os governantes desejam que seja o comportamento dos futuros rolezinhos: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, e poder me orgulhar, de ter a consciência que o pobre tem seu lugar”.
Daniel Clemente é Professor de História, Sociologia e Filosofia do Colégio Adventista de Santos
EcoDebate, 07/05/2014
07.05.2014
[EcoDebate] Depois de consumir grifes caríssimas, se banhar com perfumes importados, se embebedar de rótulos renomados, frequentar os camarotes antes destinados a outras camadas, já tinha chegado a hora de ocupar os templos de consumo para impor a nova ordem do mercado crediário, os chamados rolezinhos levou a sensação de ascensão social aos jovens da periferia e desespero á normalidade da classe média, acostumada com a democracia das vendas e com o apartheid do convívio.
Este fenômeno social mediatizado pela aquisição de etiquetas forjou uma consciência de prosperidade financeira a milhares de adolescentes, que mesmo sem alteração significativa em sua condição social, tal como educação de qualidade, saúde pública, moradia digna, emprego estável e segurança eficaz, os novos consumidores encontraram nos shoppings centers o local perfeito para desfrutar seus fetiches mercadológicos. Porém, na sociedade do consumo, a fonte do dinheiro é muito menos importante do que a origem das pessoas, se aceita o consumo nega-se a aproximação.
Alegando falta de espaços públicos para entretenimento e o desejo de participar de uma sociedade que sempre foi negligenciada aos não consumidores, os rolezinhos representavam á conquista de um território antes hostil, e hoje dependente desta classe emergente baseada no consumo. Mas como impedir que jovens periféricos frequentassem os shoppings centers sem afastar o seu potencial de consumo? A solução foi estatizar o rolezinho.
Como qualquer outro movimento social que levanta uma bandeira a ser defendida, os rolezinhos também fizeram emergir seus líderes, e portando legitimidade entre seus seguidores, os jovens foram convidados á visitar a Capital Federal e participar de uma reunião com a Presidente da República Dilma Rousseff. Lá em Brasilia, a magia do poder fascina, envolve, apaixona, cega, corrói e transforma, um novo dinamismo já estava elaborado, e o rolezinho passaria a ter uma esteira de academia sob seus pés para que suas caminhadas não saíssem mais do lugar.
Do vislumbre da sociedade de consumo para as amarras da sociedade que condena, por conta e custo governamental, caminhões trio elétricos foram enviados as periferias para que os rolezinhos fossem praticados distante dos bairros de classe média, o desejo de passear entre os playboys e ser bem recebido nos shoppings foi substituído por palanque e holofotes. O movimento foi cooptado e estatizado, a ordem da desigualdade mantida e os lideres viraram ferramentas eleitoreiras nas mãos de políticos acostumados a negociar distribuindo privilégios e transformando lideranças em fantoches.
Em comemoração a esta conquista do movimento, em cima de um caminhão para showmício, os novos líderes de repercussão nacional declamavam uma velha canção, mostrando como os governantes desejam que seja o comportamento dos futuros rolezinhos: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, e poder me orgulhar, de ter a consciência que o pobre tem seu lugar”.
Daniel Clemente é Professor de História, Sociologia e Filosofia do Colégio Adventista de Santos
EcoDebate, 07/05/2014