terça-feira, 12 de agosto de 2014

Poluição do ar: Paris e Londres reagem – e São Paulo? … o que faz? por Evangelina Vormittag e Olimpio Alvares

Instituto Saúde e Sustentabilidade
Via EcoDebate
Por Evangelina Vormittag e Olimpio Alvares
11.08.2014

Vítima de condições meteorológicas desfavoráveis e dos ambientalmente negativos incentivos governamentais aos automóveis a diesel, a cidade luz, bem como outras cidades da França, presenciaram um dos piores patamares de qualidade do ar em sua história em meados de março deste ano.  O poluente material particulado MP10 (partículas de poeira fina de diâmetro de 10 milésimos de milímetro e menores) alcançou picos de até de 180 µg/m³, quase quatro vezes o padrão diário de qualidade de ar de 50 µg/m³ (maior média das últimas 24 horas do dia) estabelecido pela Organização Mundial de Saúde. Esses níveis são considerados perigosos pelas autoridades francesas e pela legislação ambiental e de saúde local. A lei francesa estabelece que o “Alerta” seja deflagrado quando a média diária supera 80 µg/m³. No Brasil, por razões inexplicáveis, o “Alerta” deve ser deflagrado quando a média diária supera 420 µg/m³, segundo a regulamentação nacional da década de 90; e também segundo Decreto do Estado de São Paulo, do ano passado – em detrimento dos últimos 25 anos de progresso científico no campo dos estudos dos efeitos da poluição.
 
Quase não se enxergava a imponente torre Eiffel nas manhãs ensolaradas. Ao observar a estabilidade meteorológica no período e médias diárias de cerca de 110 µg/m³, o governo deflagrou medidas de emergência, preventivas e protetoras, decretando o “Alerta” à população.  Solicitou que os habitantes da Île-de-France não saíssem de carro, e se possível, não saíssem de casa; implementou o rodízio de 50% dos veículos a cada dia, inclusive motos,  jogou luz sobre a importância crítica da inspeção veicular bem feita e isentou o transporte público de pagamento, entre outras ações, devido à elevação do risco de morte da população mais vulnerável – bebês, crianças, portadores de doenças cardiorrespiratórias prévias e os cidadãos parisienses mais velhos.
 
O episódio francês se assemelha aos observados aqui em São Paulo em certos dias de inverno ensolarados com inversão térmica e tempo seco, sem ventos. Um bom exemplo para comparação é o episódio de agosto de 2010: um evento meteorológico extremo com onze dias consecutivos de umidade relativa do ar abaixo de 30%, quando a média diária do MP10 superou, durante dias seguidos, os 100 µg/m³ em diversas estações de monitoramento. No Ibirapuera, por exemplo, em 25 de agosto, atingiu-se a média diária de 165 µg/m³ e o valor máximo de 260 µg/m³, conforme reportado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e mostrado no gráfico abaixo.

Continua