quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
Desmatamento reduz tamanho de peixes em região amazônica
JC-Notícias/SBPC
02.12.2015
A constatação que mais chamou a atenção foi a de que quatro das seis espécies mais abundantes nos riachos estudados diminuíram de tamanho (em massa), entre 44% e 57%, nas áreas agrícolas
Entre os diversos danos causados pelo desmatamento na Amazônia em virtude da expansão agrícola, uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Biociências (IB) da USP mostra que houve diminuição no tamanho de algumas espécies de peixes. Para realizar o estudo dos Efeitos da conversão de florestas em áreas agrícolas sobre assembleias de peixes das cabeceiras do Rio Xingu, o ecólogo Paulo Ricardo Ilha Jiquiriçá coletou quase 4 mil peixes de 36 espécies diferentes na região de Canarana, no Mato Grosso, cidade conhecida como portal do Xingu. Ele conta que seus estudos tinham como objetivo inicial avaliar os efeitos do desmatamento e da construção de barragens sobre a fauna de peixes (assembleias). “Contudo, no decorrer da pesquisa percebemos que o tamanho corporal dos peixes nos riachos em áreas agrícolas era significativamente menor em comparação com os riachos em áreas de florestas”, conta.
Sob orientação do professor Luis Cesar Schiesari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH), e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o cientista deu início às suas pesquisas no ano de 2011. Além dos estudos nos laboratórios do IB, Paulo passou cerca de 18 meses em pesquisas de campo, residindo em Canarana. Lá, em colaboração com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o cientista realizou coletas em seis riachos, sendo três localizados em áreas de florestas e outros três em áreas agrícolas.
Nestas propriedades agrícolas é comum a degradação das matas ciliares e a construção de barragens que represam trechos dos riachos, seja para armazenar água para o gado ou para abastecer pequenas hidrelétricas. Paulo conta que a região já conta com mais de dez mil pequenas barragens. Os cursos d’água avaliados no estudo estão nas cabeceiras de rios afluentes que formam o Rio Xingu (rios Tanguro e Darro), no centro-leste do Mato Grosso. A região é uma das maiores produtoras de soja do País e está localizada no arco do desmatamento amazônico.
Redução de peso
Diversas alterações na fauna de peixes foram observadas nos riachos em áreas agrícolas e relacionadas a alterações ambientais. Paulo cita como exemplo uma espécie de rivulídeo, parente dos “killifishes” de aquário, que mede menos de 4 centímetros (cm) e aumentou em abundância nos riachos agrícolas. “Isso ocorreu devido a alterações das características naturais dos riachos. Após o desmatamento, as margens desses córregos são invadidas por gramíneas (Brachiarias) que reduzem a profundidade e criam um ambiente onde os predadores dos rivulídeos não conseguem alcançá-los, o que permite sua proliferação”, conta.
Em contrapartida, espécies que eram comuns nos riachos desapareceram das represas. “Ao menos três espécies de pequenas ‘piabas’ que eram comuns em trechos de água corrente não foram encontradas em trechos represados”, conta.
Entretanto, a constatação que mais chamou a atenção foi a de que quatro das seis espécies mais abundantes nos riachos estudados diminuíram de tamanho (em massa), entre 44% e 57%, nas áreas agrícolas. “É provável que o aquecimento da água seja responsável, ao menos em parte, pela redução de tamanho dessas espécies” acredita.
Medições feitas em campo mostraram que nos riachos de florestas e ainda não alterados em suas características as temperaturas da água eram, em média, entre 24 graus Celsius (°C) e 26°C. “Já nos riachos em áreas agrícolas, nas horas mais quentes do dia, as temperaturas atingiram até 35°C”, descreve. Para testar essa hipótese, Paulo realizou um experimento em laboratório no Departamento de Fisiologia do IB em colaboração com o professor Carlos Arturo Navas Ianini.
Lá, foram criados peixes (da mesma espécie de rivulídeo citada) em temperaturas semelhantes às dos riachos agrícolas e de florestas. “Os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos agrícolas perderam massa, diminuindo de tamanho, enquanto os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos de florestas cresceram”. A pesquisa não investigou os mecanismos fisiológicos que levam à diminuição do tamanho dos peixes, mas constatou que a temperatura da água é um fator preponderante. Paulo ressalta que este pode ser o primeiro estudo a fazer a relação direta entre a redução de tamanho dos peixes e o aquecimento provocado pela conversão de florestas em áreas agrícolas. “É possível que isto esteja acontecendo ao longo de todo o arco do desmatamento amazônico e que venha a causar perdas de biodiversidade”.
(Agência USP de Notícias)
02.12.2015
A constatação que mais chamou a atenção foi a de que quatro das seis espécies mais abundantes nos riachos estudados diminuíram de tamanho (em massa), entre 44% e 57%, nas áreas agrícolas
Entre os diversos danos causados pelo desmatamento na Amazônia em virtude da expansão agrícola, uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Biociências (IB) da USP mostra que houve diminuição no tamanho de algumas espécies de peixes. Para realizar o estudo dos Efeitos da conversão de florestas em áreas agrícolas sobre assembleias de peixes das cabeceiras do Rio Xingu, o ecólogo Paulo Ricardo Ilha Jiquiriçá coletou quase 4 mil peixes de 36 espécies diferentes na região de Canarana, no Mato Grosso, cidade conhecida como portal do Xingu. Ele conta que seus estudos tinham como objetivo inicial avaliar os efeitos do desmatamento e da construção de barragens sobre a fauna de peixes (assembleias). “Contudo, no decorrer da pesquisa percebemos que o tamanho corporal dos peixes nos riachos em áreas agrícolas era significativamente menor em comparação com os riachos em áreas de florestas”, conta.
Sob orientação do professor Luis Cesar Schiesari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH), e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o cientista deu início às suas pesquisas no ano de 2011. Além dos estudos nos laboratórios do IB, Paulo passou cerca de 18 meses em pesquisas de campo, residindo em Canarana. Lá, em colaboração com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o cientista realizou coletas em seis riachos, sendo três localizados em áreas de florestas e outros três em áreas agrícolas.
Nestas propriedades agrícolas é comum a degradação das matas ciliares e a construção de barragens que represam trechos dos riachos, seja para armazenar água para o gado ou para abastecer pequenas hidrelétricas. Paulo conta que a região já conta com mais de dez mil pequenas barragens. Os cursos d’água avaliados no estudo estão nas cabeceiras de rios afluentes que formam o Rio Xingu (rios Tanguro e Darro), no centro-leste do Mato Grosso. A região é uma das maiores produtoras de soja do País e está localizada no arco do desmatamento amazônico.
Redução de peso
Diversas alterações na fauna de peixes foram observadas nos riachos em áreas agrícolas e relacionadas a alterações ambientais. Paulo cita como exemplo uma espécie de rivulídeo, parente dos “killifishes” de aquário, que mede menos de 4 centímetros (cm) e aumentou em abundância nos riachos agrícolas. “Isso ocorreu devido a alterações das características naturais dos riachos. Após o desmatamento, as margens desses córregos são invadidas por gramíneas (Brachiarias) que reduzem a profundidade e criam um ambiente onde os predadores dos rivulídeos não conseguem alcançá-los, o que permite sua proliferação”, conta.
Em contrapartida, espécies que eram comuns nos riachos desapareceram das represas. “Ao menos três espécies de pequenas ‘piabas’ que eram comuns em trechos de água corrente não foram encontradas em trechos represados”, conta.
Entretanto, a constatação que mais chamou a atenção foi a de que quatro das seis espécies mais abundantes nos riachos estudados diminuíram de tamanho (em massa), entre 44% e 57%, nas áreas agrícolas. “É provável que o aquecimento da água seja responsável, ao menos em parte, pela redução de tamanho dessas espécies” acredita.
Medições feitas em campo mostraram que nos riachos de florestas e ainda não alterados em suas características as temperaturas da água eram, em média, entre 24 graus Celsius (°C) e 26°C. “Já nos riachos em áreas agrícolas, nas horas mais quentes do dia, as temperaturas atingiram até 35°C”, descreve. Para testar essa hipótese, Paulo realizou um experimento em laboratório no Departamento de Fisiologia do IB em colaboração com o professor Carlos Arturo Navas Ianini.
Lá, foram criados peixes (da mesma espécie de rivulídeo citada) em temperaturas semelhantes às dos riachos agrícolas e de florestas. “Os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos agrícolas perderam massa, diminuindo de tamanho, enquanto os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos de florestas cresceram”. A pesquisa não investigou os mecanismos fisiológicos que levam à diminuição do tamanho dos peixes, mas constatou que a temperatura da água é um fator preponderante. Paulo ressalta que este pode ser o primeiro estudo a fazer a relação direta entre a redução de tamanho dos peixes e o aquecimento provocado pela conversão de florestas em áreas agrícolas. “É possível que isto esteja acontecendo ao longo de todo o arco do desmatamento amazônico e que venha a causar perdas de biodiversidade”.
(Agência USP de Notícias)