quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
O vírus da desinformação
Observatório da Imprensa
Carlos Castilho
16.02.2016
Ainda estamos tentando mapear a propagação do vírus Zika mas um outro vírus, o da desinformação, já contaminou a esmagadora maioria dos brasileiros. Governos e indústrias farmacêuticas estão empenhados no controle da epidemia e na produção da vacina contra a enfermidade transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, mas até agora ninguém se preocupou em verificar como a imprensa está colaborando para o contágio da desinformação.
Não se conhece exatamente quais as consequências do Zika, mas no caso do vírus da desinformação, já sabemos que ele é alimentado por dados desencontrados, incompletos ou descontextualizados, provocando dúvidas, incertezas e insegurança. A desinformação surge, por exemplo, quando a secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, com base num estudo feito na Argentina, proíbe o uso do larvicida Pyriproxifen, enquanto o Ministério da Saúde, alegando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), garante que o produto é adequado para o combate ao Aedes Aegypti.
Os dados desencontrados confundem as pessoas e a imprensa se limita a reproduzir as declarações de uma parte e outra, sem entrar em maiores detalhes. A mesma situação se repete quando o noticiário fala na transmissão do virus Zika pela saliva ou sêmen, na produção de mosquitos transgênicos e sobre as estratégias de combate à dengue. Todos esperavam que no domingo, o dia da mobilização contra o Aedes, houvesse um esforço nacional para eliminar criadouros. Mas o que aconteceu de fato foi apenas uma campanha em alguns municípios de conscientização e distribuição de panfletos.
As dúvidas e incertezas aumentaram porque cresceu muito o volume de informações circulando em toda a sociedade. Antes todos se guiavam pelos grandes jornais e telejornais, mas agora temos uma miríade de blogs, redes sociais, sistemas de micro-mensagens, vídeos e áudios (podcasts) circulando pela internet com alcance planetário e em tempo real. É a tal da avalanche informativa, que tem um lado bom mas também um ruim, caracterizado por uma desordem noticiosa que beira o caos.
Uma amostra dos efeitos desta avalanche informativa é a polêmica em torno das estatísticas sobre incidência da microcefalia no Brasil. Até o ano passado havia poucos dados porque os sistemas de registro de casos eram deficientes. Quando as novas tecnologias de informação permitiram uma mudança nos procedimentos de registro, as estatísticas deram um salto e ai todos se assustaram. O que antes não havia sido quantificado transformou-se numa epidemia por conta da multiplicação de dados.
Continua.
Carlos Castilho
16.02.2016
Ainda estamos tentando mapear a propagação do vírus Zika mas um outro vírus, o da desinformação, já contaminou a esmagadora maioria dos brasileiros. Governos e indústrias farmacêuticas estão empenhados no controle da epidemia e na produção da vacina contra a enfermidade transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, mas até agora ninguém se preocupou em verificar como a imprensa está colaborando para o contágio da desinformação.
Não se conhece exatamente quais as consequências do Zika, mas no caso do vírus da desinformação, já sabemos que ele é alimentado por dados desencontrados, incompletos ou descontextualizados, provocando dúvidas, incertezas e insegurança. A desinformação surge, por exemplo, quando a secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, com base num estudo feito na Argentina, proíbe o uso do larvicida Pyriproxifen, enquanto o Ministério da Saúde, alegando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), garante que o produto é adequado para o combate ao Aedes Aegypti.
Os dados desencontrados confundem as pessoas e a imprensa se limita a reproduzir as declarações de uma parte e outra, sem entrar em maiores detalhes. A mesma situação se repete quando o noticiário fala na transmissão do virus Zika pela saliva ou sêmen, na produção de mosquitos transgênicos e sobre as estratégias de combate à dengue. Todos esperavam que no domingo, o dia da mobilização contra o Aedes, houvesse um esforço nacional para eliminar criadouros. Mas o que aconteceu de fato foi apenas uma campanha em alguns municípios de conscientização e distribuição de panfletos.
As dúvidas e incertezas aumentaram porque cresceu muito o volume de informações circulando em toda a sociedade. Antes todos se guiavam pelos grandes jornais e telejornais, mas agora temos uma miríade de blogs, redes sociais, sistemas de micro-mensagens, vídeos e áudios (podcasts) circulando pela internet com alcance planetário e em tempo real. É a tal da avalanche informativa, que tem um lado bom mas também um ruim, caracterizado por uma desordem noticiosa que beira o caos.
Uma amostra dos efeitos desta avalanche informativa é a polêmica em torno das estatísticas sobre incidência da microcefalia no Brasil. Até o ano passado havia poucos dados porque os sistemas de registro de casos eram deficientes. Quando as novas tecnologias de informação permitiram uma mudança nos procedimentos de registro, as estatísticas deram um salto e ai todos se assustaram. O que antes não havia sido quantificado transformou-se numa epidemia por conta da multiplicação de dados.
Continua.