domingo, 14 de fevereiro de 2016

Protagonismo negro sobre tela

Revista Cult
Helder Ferreira

Tadeu Chiarelli, diretor geral da Pinacoteca do Estado de São Paulo, fala sobre exposição que destaca trabalho de artistas afrodescendentes


Paulo Nazareth – Sem título / Foto: Isabella Matheus

 
por Helder Ferreira
 
Em cartaz na Estação Pinacoteca, no centro da cidade de São Paulo, desde 12 de dezembro, a mostra Territórios apresenta ao público mais de cem obras de artistas brasileiros negros (ou radicados no Brasil) que integram o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
 
Entre os destaques da exposição, obras de Arthur Timótheo da Costa, Estêvão Silva, Antonio Bandeira, Jaime Lauriano, Rosana Paulino, Rommulo Vieira Conceição e Paulo Nazareth (perfilado pelo site da revista CULT em 2012, leia aqui).
 
Em entrevista ao site da revista CULT, Tadeu Chiarelli, diretor geral da instituição e curador da mostra, comenta a importância de destacar o trabalho desses artistas que, apesar de “enriquecerem o debate da arte no país”, são muitas vezes ignorados pela crítica. “O racismo e a segregação estão em todos os lugares aqui no Brasil, inclusive no campo das artes”, pontua Chiarelli, que também revela que a Pinacoteca almeja conquistar protagonismo na agenda da diversidade nas artes do país. Leia abaixo.
 
CULT: Por que fazer uma exposição só com artistas afrodescendentes?
 
Tadeu Chiarelli: Duas questões confluíram para a realização da mostra:
 
1 – Já faz algum tempo, existia o interesse da Pinacoteca em proceder um resgate de alguns aspectos de sua história, durante as comemorações de seus 110 anos, que tomarão os anos de 2015 e 2016. Dentro desse resgate, entre outros aspectos, refletir sobre a contribuição de alguns diretores do museu durante esse período de mais de um século. Nesse sentido, interessava bastante rever a experiência de Emanoel Araújo, primeiro diretor negro do Museu. Analisando o período em que Araújo foi diretor (de 1992 a 2002), destaca-se, entre outros pontos de interesse, o fato de que foi a partir de sua gestão que se iniciou a formação de um núcleo importante de artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca;
 
2 – Ao núcleo já existente desses artistas, havia a percepção de que, nos últimos anos, surgiu no Brasil uma série de bons artistas, que eram do meu interesse trazer para o acervo da Pinacoteca, não apenas pelo fato de serem afrodescendentes – o que é importantíssimo, em se tratando do Brasil –, mas também porque suas produções enriquecem o debate da arte no país.
 
Em suma, juntar o acervo já existente com as novas aquisições e daí, idealizar uma exposição que colocasse em evidência esse importante setor do acervo do museu foi um passo.

Continua.