Revista Cult
Helder Ferreira
Tadeu Chiarelli, diretor geral da Pinacoteca do Estado de São Paulo, fala sobre exposição que destaca trabalho de artistas afrodescendentes
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Paulo Nazareth – Sem título / Foto: Isabella Matheus
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por Helder Ferreira
Em cartaz na Estação Pinacoteca, no centro da cidade de São Paulo, desde 12 de dezembro, a mostra Territórios apresenta ao público mais de cem obras de artistas brasileiros negros (ou radicados no Brasil) que integram o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Entre os destaques da exposição, obras de Arthur Timótheo da Costa, Estêvão Silva, Antonio Bandeira, Jaime Lauriano, Rosana Paulino, Rommulo Vieira Conceição e Paulo Nazareth (perfilado pelo site da revista CULT em 2012, leia
aqui).
Em entrevista ao site da revista CULT, Tadeu Chiarelli, diretor geral da instituição e curador da mostra, comenta a importância de destacar o trabalho desses artistas que, apesar de “enriquecerem o debate da arte no país”, são muitas vezes ignorados pela crítica. “O racismo e a segregação estão em todos os lugares aqui no Brasil, inclusive no campo das artes”, pontua Chiarelli, que também revela que a Pinacoteca almeja conquistar protagonismo na agenda da diversidade nas artes do país. Leia abaixo.
CULT: Por que fazer uma exposição só com artistas afrodescendentes?
Tadeu Chiarelli: Duas questões confluíram para a realização da mostra:
1 – Já faz algum tempo, existia o interesse da Pinacoteca em proceder um resgate de alguns aspectos de sua história, durante as comemorações de seus 110 anos, que tomarão os anos de 2015 e 2016. Dentro desse resgate, entre outros aspectos, refletir sobre a contribuição de alguns diretores do museu durante esse período de mais de um século. Nesse sentido, interessava bastante rever a experiência de Emanoel Araújo, primeiro diretor negro do Museu. Analisando o período em que Araújo foi diretor (de 1992 a 2002), destaca-se, entre outros pontos de interesse, o fato de que foi a partir de sua gestão que se iniciou a formação de um núcleo importante de artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca;
2 – Ao núcleo já existente desses artistas, havia a percepção de que, nos últimos anos, surgiu no Brasil uma série de bons artistas, que eram do meu interesse trazer para o acervo da Pinacoteca, não apenas pelo fato de serem afrodescendentes – o que é importantíssimo, em se tratando do Brasil –, mas também porque suas produções enriquecem o debate da arte no país.
Em suma, juntar o acervo já existente com as novas aquisições e daí, idealizar uma exposição que colocasse em evidência esse importante setor do acervo do museu foi um passo.
Continua.