Matthew Francis
22.01.2016
NASA busca o segredo da vida na Terra nas profundezas de um lago do Canadá
“Por que a NASA se interessaria em estudar um lago do Canadá?” Três agentes de fronteira fazem a mesma pergunta, com pequenas variações, e, embora tenham nos deixado passar, era evidente que não compreendiam a resposta. Por que a NASA se interessa por um lago canadense? E por que isso tem a ver conosco?
No que se refere a ecossistemas exóticos, o lago Pavilion, na Columbia Britânica, é o mais comum possível. Fica em um lugar distante, isso sim: a cidade importante mais próxima é Vancouver, a quatro horas de carro dali, atravessando montanhas, e as localidades da redondeza são pequenos núcleos de casas nas encostas secas, separadas por dezenas de quilômetros por uma estrada que serpenteia a paisagem erma. O lago, propriamente, fica junto a uma estrada asfaltada, e, visto a partir dela, não parece ser diferente de qualquer outro lago de montanha com dimensões discretas no oeste da América do Norte.
No entanto, sob a superfície, o fundo do lago Pavilion está tomado por uma espécie de recife de coral: cúpulas, cones e outras formas esquisitas muito parecidas com a alcachofra. Mas os corais são colônias de animais minúsculos, e isso não: trata-se de formações rochosas chamadas microbialitos, compostas e cobertas de cianobactérias. Pode até ser que essas bactérias – às vezes chamadas, equivocadamente, de “algas verde-azuladas” – formassem até mesmo as rochas em que vivem, absorvendo os nutrientes da água e deixando a rocha. Tal como as plantas, elas se alimentam da luz do sol e se desenvolvem nas águas pouco profundas da encosta submarina, até o ponto em que a luz começa a se apagar.
São elas que constituem o motivo de interesse da NASA. Mas as pessoas com quem viemos falar aqui têm em mente projetos ainda mais ambiciosos: elas querem saber o que essas estranhas formações do lago Pavilion poderiam nos revelar sobre a origem da vida na Terra, a vida em outros mundos e até mesmo o significado exato da vida.
Código Morse no DNA
Erwin Schrödinger era um sujeito esperto. Talvez você o conheça por causa da famosa experiência teórica do “gato de Schrödinger”, que consiste em uma caixa com um gato que está parado, até que se olha dentro dela. Um de seus trabalhos mais interessantes, no entanto, é um livrinho de 1944 baseado em uma série de conferências que Schrödinger proferiu em Dublin e que coloca a seguinte pergunta: o que é a vida?
Esse livro é importante porque anteviu algumas propriedades importantes do DNA antes deste ter sido descoberto. Faltava quase uma década para a descoberta da famosa dupla hélice, mas Schrödinger encontrou a chave para saber como os organismos evoluem e transmitem informação de uma geração para outra como um “cristal aperiódico”: uma cadeia de átomos que nunca se repete exatamente. Embora cada elo da cadeia contenha os mesmos átomos (carbono, nitrogênio, oxigênio, hidrogênio e fósforo), sua combinação permite que se codifique uma quantidade enorme de informação.
Continua.
Nota do El País:
Este artigo foi publicado pela primeira vez em Mosaic e é publicado novamente aqui sob a licença Creative Commons.