segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Poluição: Uma nova economia do plástico é urgente - Entrevista especial com Reinaldo Dias

IHU On-Line
EcoDebate
08.02.2016

“No mundo todo, mais de 70% do plástico produzido é depositado em aterros ou lançado em cursos d’água”, alerta o professor e especialista em Ciências Ambientais.

A poluição provocada pelo descarte inadequado do excedente gerado pela lógica do consumo exacerbado, inerente ao sistema capitalista, que alimenta a obsolescência e incentiva a substituição incessante de bens de todo tipo, é um problema conhecido. As consequências desse comportamento também são sabidas, porém ele continua recorrente. A situação se agrava quando ao examinamos o material do qual é formada a maior parte desses produtos descartados: o plástico. Pesquisas revelam que as diversas formas assumidas pelo plástico, seja a presente emgarrafas PET ou nas fraldas descartáveis, levam cerca de 450 anos para se decompor na natureza. O pior é que a maior parte de todo o plástico produzido no mundo não é reutilizada e é descartada de forma inadequada, poluindo aterra e principalmente a água, tanto rios como oceanos.

Em entrevista por e-mail à IHU On-Line, o professor e especialista em Ciências Ambientais, Reinaldo Dias, chama a atenção para os dados divulgados recentemente pelo relatório “A nova economia do plástico: repensando o futuro”, elaborado pela Consultoria McKinsey & Co. e a Organização Não Governamental Ocean Conservancy e apresentado neste ano no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Para o pesquisador, o estudo é “um alerta para a humanidade de que estamos inviabilizando a vida marinha, sua diversidade e o enorme potencial que os oceanos possuem de produzir alimentos que amenizariam o problema da fome no mundo”.
Segundo o professor, atualmente “há cinco grandes manchas de lixo nos oceanos que podem ser vistas do espaço e que contêm cerca de 90% de resíduos plásticos. A ilha de lixo situada entre o Havaí e a Califórnia tem uma extensão de 1,4 milhão de km2. A mancha menos conhecida é a do Oceano Índico, mas acredita-se que é enorme, podendo chegar a uma extensão de 5 milhões de km2”.
O Brasil, através da Lei 12.305/2010 busca regulamentar a questão do descarte de lixo instituindo a Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Porém, da mesma forma que outras tantas leis no país, tais normas não são cumpridas. Diasaponta que “a lei havia dado prazo até agosto de 2014 para que as cidades acabassem com os lixões e aterros sem condições técnicas, no entanto até hoje menos de 40% dos municípios atingiram a meta estabelecida e se mantiver a média de crescimento do setor, o objetivo somente será atingido em 150 anos”.

O pesquisador afirma que a conscientização sobre o papel individual de cada cidadão, se responsabilizando pelo descarte correto do lixo que produz, e uma mudança na mentalidade política e econômica em relação à reutilização são os caminhos mais promissores em direção à mudança desse cenário. “A questão da reciclagem, de plástico e de outros materiais, deve ser vista dentro do contexto de formação de uma economia verde, de maior eficiência energética e na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Nesse caso, deve ser considerada um novo nicho industrial, de transformação do lixo em riqueza”, ressalta.

Reinaldo Dias é graduado em Ciências Sociais, mestre em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. É especialista em Ciências Ambientais pela Universidade São Francisco – USF e atualmente leciona no curso de Administração do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas – CCSA da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Confira a entrevista.