quarta-feira, 2 de março de 2016

Antropoceno: ou mudamos nosso estilo de vida, ou a Terra, como conhecemos, sucumbirá - Entrevista especial com Wagner Costa Ribeiro

EcoDebate
IHU On-line
01.03.2016


“De fato, um desafio importante significa repensar o significado da vida: o que queremos da nossa vida, da nossa organização social? Para que vivemos?”, provoca o geólogo.

O consumo exagerado, que anseia sempre o novo e descarta com facilidade quaisquer objetos, é o comportamento que tem predominado na sociedade. Com o aumento da capacidade de produção em nome do lucro, a oferta de produtos de toda ordem se amplia cada vez mais e, no sentido oposto, os recursos naturais já dão sinais de esgotamento. Essas são algumas das características do tempo em que vivemos e que os estudiosos têm denominado de Antropoceno. Trata-se de uma era em que a capacidade de intervenção da espécie humana no ambiente recebe o foco das atenções.

Conforme ressalta, em entrevista por telefone à IHU On-Line, o geógrafo e professor Wagner Costa Ribeiro, a importância e grande diferença do Antropoceno em relação às eras anteriores é que “pela primeira vez na história geológica da natureza – das eras – se assumiu a espécie humana como principal força motriz de transformação tanto da biosfera quanto da litosfera e atmosfera”.

As transformações no ambiente se intensificam na medida em que o avanço tecnológico desenvolve, especializa e potencializa o poder dos humanos de manejar os elementos da natureza de acordo com seus interesses. No entanto, a exploração indiscriminada do planeta já apresenta as contas das consequências que começam a ser pagas pelos que vivem o presente, mas serão cobradas com veemência dos que ainda estão por vir se o estilo de vida da sociedade não for repensado.

Para o geólogo, “esse é um debate de caráter ético que nós devemos começar cada vez mais a aprofundar. Apesar de já se ter começado a falar sobre esse tema, as discussões ainda são muito incipientes. Trata-se da questão do direito geracional, que de algum modo nasceu com a preocupação com a sustentabilidade, que em linhas gerais significa deixar para as gerações futuras as condições atuais do planeta. Aos poucos estamos vendo que será impossível manter esse ritmo intenso de uso de recursos naturais”.

Wagner Costa Ribeiro é graduado em Geografia, mestre e doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é professor do Departamento de Geografia e dos Programas de Pós-Graduação em Geografia Humana e Ciência Ambiental da USP. Obteve a livre docência também na USP e realizou estudos de pós-doutorado na Universidad de Barcelona – UB, na Espanha. Também coordena o Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do Instituto de Estudos Avançados da USP. Entre suas obras, destaca-se A ordem ambiental internacional (São Paulo: Contexto, 2001).

Confira a entrevista.