O talento e a generosidade dessa atriz e líder, morta no dia 14 de junho de 1969, são relembrados pela irmã Cleyde Yáconis
Desde criança Cacilda tinha o dom de comandar, mas também a argúcia de fazê-lo sem que a mamãe, a Rainha da Taba, como dona Alzira era chamada, percebesse. Sou a caçula, Dirce a do meio, Cacilda era a mais velha. Eu tinha 3 anos e lembro muito bem dela me pegar no colo e me tratar feito filha. Assumiu a chefia da casa muito cedo. Aos 12 anos conseguiu para Dirce e para mim o curso ginasial em colégio particular como contrapartida ao festival de dança que organizou no Coliseu de Santos.
Há coisas em minha família que considero inexplicáveis. Em Pirassununga, para onde fomos quando nosso pai nos abandonou, mamãe dava aulas, escrevia peças de teatro e poemas. Como se explica isso se nunca tínhamos ido ao teatro, jamais a um recital? Aos 8 anos, Cacilda já falava em sair de Pirassununga, sabia que não havia horizontes ali, tinha essa percepção.
Mudamos para Santos e fomos morar numa favela. Passamos fome. Mamãe nos estimulava a roubar comida na feira. E dizia: "Se acostumar eu mato, é só para sobreviver, a gente vai sair dessa." Não tínhamos móveis, só caixotes na sala, mas mamãe colocava papel crepom na lâmpada para criar um ambiente de beleza. Ela costurava nossos vestidos à mão. Havia uma atmosfera de arte naquela casa que não sei explicar. Continua
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"No ano de 1968, a Rede Bandeirantes colocava no ar a história 'Inês de Castro', dentro da série 'Teatro Cacilda Becker'. A emissora estava engatinhando: iniciara suas transmissões no ano anterior. Cacilda estrelava o teleteatro, baseado numa história verídica de amor proibido que se passou em Portugal no século 14. Ao seu lado estavam Mauro Mendonça, Homero Kossac, Jairo Arco e Flecha, e Marta Greiss.
Nessa cena, um dos raros registros da atriz, temos a oportunidade de vê-la exercer seu talento ímpar. Participa da cena, também, o futuro cantor e ator Fábio Júnior com apenas 14 anos de idade." Trecho do texto encontrado no Youtube.