segunda-feira, 5 de maio de 2014

Pedrinho, Bernardo e o espírito do nosso tempo, por Gaudêncio Torquato

Via blog do Noblat
04.05.2014

O pequeno MC Pedrinho está bombando nas redes sociais com Dom Dom Dom, música que faz referência a sexo oral. (MCs são designados os cantores de funk, os "mestres de cerimônias", responsáveis pela condução e ritmo da festa).

O sucesso desse menino de 11 anos deriva não apenas do fato de enveredar pelo gênero que anima bailes das galeras jovens das periferias, mas pelo inusitado feito de fazer ecoar, com seu timbre fino de voz, uma letra cujo fim do refrão é impublicável.

A dissonância que se poderia enxergar entre a idade do artista e a carga de significados do funk pesadão parece proposital para chocar ouvidos menos acostumados às nuances da linguagem desse gênero. Pedro Maia faz sucesso. Há dias, outro menino, também de 11 anos, Bernardo Boldrini, foi assassinado pela madrasta, com uma injeção letal no braço esquerdo. Sobre o corpo depositado numa cova, foi jogada soda cáustica para acelerar o processo de decomposição. Os garotos, da mesma idade, de origens e classes sociais distintas – Pedrinho, filho de uma doméstica, Bernardo, filho de médico – traduzem o espírito do tempo em nossos trópicos. Continua!