terça-feira, 19 de novembro de 2013

Países ricos barram proposta brasileira na cúpula do clima


JC e-mail 4857, de 18 de novembro de 2013
Países ricos barram proposta brasileira na cúpula do clima


Ideia era criar acordo no qual corte de emissões levasse em conta quanto CO2 cada país liberou desde o século 19

A proposta brasileira de esboçar um acordo do clima que leve em conta a "responsabilidade histórica" de cada nação sobre o aquecimento global foi bloqueada pelos países desenvolvidos.

Os brasileiros tentam agora usar a força dos apoiadores do projeto, ao menos 136 países, para destravá-lo na COP-19 (conferência mundial do clima da ONU), que entra hoje na reta final. O objetivo do encontro é criar um primeiro esboço do acordo global para redução de emissões dos gases do efeito estufa, a ser assinado em 2015.

Em linhas gerais, o Brasil propõe que seja criado um jeito de calcular quanto cada país contribuiu para o aquecimento global desde a Revolução Industrial. Essa parcela de "culpa" seria um dos elementos para definir as responsabilidades de cada nação --e cortes de emissões.

A polarização entre ricos e pobres já era esperada, especialmente porque agora cresce a pressão para que os emergentes --que nos últimos 20 anos aumentaram consideravelmente sua parcela de emissões-- também tenham metas ambiciosas e obrigatórias para reduzir a liberação de gases-estufa.

Países em desenvolvimento, por sua vez, reforçam que o aquecimento global é causado pelo acúmulo de emissões, e não apenas pelo CO2 jogado na atmosfera hoje. Mais prejudicadas pelo cálculo, nações ricas começaram uma campanha de oposição à metodologia proposta pelo Brasil já nos primeiros dias do encontro, que vai até sexta-feira em Varsóvia.

CONEXÃO IPCC
Em negociações na madrugada de domingo, o grupo brasileiro não conseguiu driblar a oposição. Para seguir com a ideia da responsabilidade histórica, o Brasil quer começar a discutir a proposta em outra instância da COP.

Os brasileiros querem usar a adesão do G77 (bloco de países em desenvolvimento, que na verdade conta com 135 países) e da China, campeã absoluta de emissões, para fazer a proposta seguir em frente, diz José Antônio Marcondes de Carvalho, negociador-chefe do Brasil no encontro.

O Brasil sugere que o IPCC (painel de climatologistas da ONU) desenvolva a metodologia para calcular a responsabilidade histórica de cada país, mas ainda não houve consulta formal ao grupo.

"Só pode haver uma resposta formal se o IPCC for chamado oficialmente pela convenção do clima. E isso não aconteceu justamente porque os países ricos, todos eles, impediram até mesmo esse diálogo", diz Raphael Azeredo, outro negociador da delegação brasileira. "É óbvio que o Brasil fez o dever de casa. Nós sabemos que essa metodologia é possível."

Integrantes do IPCC ouvidos pela Folha afirmam que o assunto é controverso mesmo dentro do próprio grupo de cientistas ligado à ONU.

(Giuliana Miranda/Folha de S.Paulo)

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