terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pais satisfeitos impedem melhoria da educação



JC e-mail 3628, de 27 de Outubro de 2008.
3. Pais satisfeitos impedem melhoria da educação

Economista diz que “não há crise na educação porque não há descontentamento com a escola”

Em conferência na última sexta-feira (24/10), na Reunião Regional da SBPC em Maceió, o economista Claudio de Moura Castro apresentou um diagnóstico da educação no país com base em resultados de uma pesquisa que mostra que 80% dos professores, estudantes e pais estão satisfeitos com a qualidade da escola brasileira.

“Não há crise na educação brasileira. Só existe crise quando há alguém descontente, e o que vemos é um grau elevado de contentamento com a escola ao mesmo tempo em que ela é ruim. Não há como fazer uma mobilização em favor da melhoria da educação se não há descontentamento”, avalia Castro.

O ex-diretor da Capes afirma que tal concepção passa por algumas ilusões. A primeira, de que os pais estudaram em escola muito piores que a de seus filhos. “Fisicamente isso pode ser verdade, porque há carteiras, há merenda, e em alguns casos há até mochila e tênis para os alunos. Mas a verdade é que eles aprendem tão pouco ou até menos do que antigamente”, observa.

A segunda ilusão comentada por Castro é a de que o Brasil conquistou o sucesso econômico mesmo com a pouca educação da população. “Isso de fato aconteceu, mas não é mais possível repetir o passado. Hoje os processos produtivos estão mais complexos, precisamos cada vez mais de educação.”

Mas se professores, pais e alunos não se dão conta da precariedade da educação – apontada principalmente por avaliações como a do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), na qual o Brasil tem ocupado as últimas colocações –, o que fazer? Para Castro, o papel da academia é refletir e insistir nessa discussão, para que ao menos os educadores adquiram consciência do problema.

Além disso, diz o economista, é preciso investir na melhoria de aspectos cruciais da educação, como a alfabetização. “Certamente a solução para a educação no país deve começar na alfabetização. É uma catástrofe que os alunos não estejam alfabetizados já no segundo ano do ensino fundamental”, avalia.

Mas Castro ressalta que os professores precisam aprender a ensinar. Para isso, é fundamental aperfeiçoar a formação docente, tema exaustivamente debatido nesta reunião regional da SBPC.

“Muito professores que ensinam para aqueles que dão aula no ensino básico não passaram por ele. Um marceneiro aprende seu trabalho na oficina, e a oficina do professor é a sala de aula. Vivemos numa sociedade que privilegia o diploma, e não o ‘saber fazer’. Este é um problema sério”, conclui o economista.
(Daniela Oliveira)

Via Jornal da Ciência