sábado, 11 de outubro de 2008

É proibido colar



JC e-mail 3617, de 10 de Outubro de 2008.
6. É proibido colar

Escândalo de professores da USP envolvidos em caso de plágio mobiliza intelectuais, que defendem ética em pesquisa e temem pelo futuro da produção acadêmica

Carla Rodrigues escreve para o “Valor Econômico”:

Primeiro, a boa notícia: o porcentual de participação da América Latina no total de publicações científicas quase dobrou nos últimos anos. Saiu de 1,8% entre 1991 e 1995 para 3,4% de 1999 a 2003, segundo a Unesco.

Agora, a má notícia. No rastro desse crescimento, surgiu outro fenômeno do qual a comunidade científica tem menos razões para se orgulhar: o plágio intelectual, que há tempos se configura como um problema para grandes universidades no exterior e acaba de causar estragos na Universidade de São Paulo (USP).

Na segunda-feira, o Conselho Curador da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) aceitou o pedido de demissão, feito "em caráter irrevogável", do professor Nelson Carlin, que até então era seu vice-diretor. Denunciado por fraude intelectual, ele recebeu uma moção de censura da reitoria, insuficiente para aplacar os problemas causados pelo episódio.

Só no ano passado, o Escritório de Integridade em Pesquisa (ORI) dos Estados Unidos recebeu 217 denúncias de plágio, abriu 14 investigações, encerrou 28 inquéritos - dos quais 10 registraram má conduta em pesquisa - e puniu 7 pesquisadores com medidas que incluem suspensão de financiamento e cassação de registro. Por falta de um organismo que cuide da questão no Brasil, não é possível contabilizar os casos de má conduta e medir o estado da integridade da pesquisa no país.

Por aqui, são situações exemplares que fazem barulho, como o caso envolvendo Carlin. O escândalo começou no Instituto de Física da USP, no ano passado, quando o professor Mahir Hussein acusou Carlin de ter copiado extensas partes de seus textos em artigo publicado no volume 75 da revista "Physical Review C".

Além da acusação de cópia, uma contagem de palavras indica que menos de 23% do artigo publicado é original. A apuração foi encerrada com o pedido de demissão de Carlin depois de um comunicado da reitoria que reconhecia o plágio e aplicava a moção de censura aos autores.

Diz o documento: "Embora os trabalhos científicos que foram objeto da investigação contenham pesquisa original, houve um desvio ético na redação dos mesmos por uma inaceitável falta de zelo na preparação dos artigos publicados. Isso resultou na consignação, pela comissão, de uma moção de censura ética aos autores, pela não-observância dos preceitos éticos da Universidade."

A moção de censura, distribuída por escrito ao corpo docente da USP, não foi exatamente bem recebida. Primeiro, por ter sido precedida de um comunicado oficial que pretendia manter silêncio sobre o caso. Depois, porque, desde que divulgada, os protestos contra o tratamento brando aos acusados de plágio se multiplicaram. Artigo do colunista da "Folha de S.Paulo" Marcelo Leite exigia da reitoria da USP uma "explicação completa do caso".

Embora o esclarecimento não tenha vindo, na trilha do texto de Leite houve numerosos protestos que fizeram eco à indignação do jornalista, ele mesmo ex-aluno da USP. Questões como o futuro da produção acadêmica no Instituto de Física e na universidade, a prática do autoplágio, os riscos de desmoralização do vestibular, já que Carlin era vice-reitor da Fuvest, e a importância de uma cultura que puna iniciativas de fraudes nos artigos científicos foram alguns dos pontos em discussão. Veja a matéria completa

(Valor Econômico, 10/10)

Via Jornal da Ciência

Veja também:

1) No site Post Express: “Vegonha na USP”, de Marcelo Leite
2) No blog da Regina Volpato: Geração “copia e cola”