Era uma festa de quarentões. A conversa enveredou por viagens. Eu tinha ido a Maceió com meu namorado. Eu o sequestrei para uma pousada na Rota Ecológica de Alagoas, a 100 km da capital. Um paraíso. Mas meu homem não ficou tão extasiado quanto eu. Com o ócio, os coqueirais, o vento que leva à indolência, as piscinas naturais, a desconexão da realidade, tapioca, as conversas com os pescadores e as jangadas. Afinal…praia por praia, nós temos tantas no litoral do Rio, disse. Mais perto. Búzios. Sem pegar avião, depois estrada por duas horas. Mais cômodo. Normal.
Normal?
Imediatamente, criou-se uma divisão na festinha. Dois times. As mulheres de um lado. Os homens do outro. Como se fosse uma queda-de-braço filosófica ou existencial. Mas com humor, risos e piadinhas de casais que aparentemente se amam.
Elas queriam conhecer lugares novos, aprender coisas novas, enxergar outros azuis de céu, conhecer gente diferente, e os “obstáculos” eram apenas desafios que poderiam tornar o destino mais atraente. Elas queriam a aventura, sonhavam com a imprevisibilidade.
Eles queriam voltar aos lugares que já conheciam, que já sabiam que gostavam, que não dava muito trabalho para chegar, que não tinha muita novidade para decifrar, e os “obstáculos” eram inconvenientes que poderiam estragar seu descanso e sua diversão. Eles sonhavam com a previsibilidade.
“Eu queria ir para a Patagônia”. “Eu queria ir para o deserto do Atacama”. “Tailândia”. “Trekking no Chile”. “Canoagem”. “Tibete”.
Depois dos 50 anos, esse turismo de descoberta tornou-se muito mais feminino hoje em dia. Para uma enorme quantidade de homens, essas viagens parecem suplício, ou “pagamento de promessa”.
“Quando minha mulher vê uma reportagem sobre o Vietnã, corre para a internet e olha tudo que a gente pode fazer, pesquisa onde a gente vai ficar. Eu? Bom, eu me conformo. Ela manda”. (submissão não é uma boa receita para ser feliz…já imaginou as cenas da viagem?)
Se a mulher não tem homem, ou se seu homem não a acompanha, ela viaja com os filhos, com amigas mulheres. Ou começa a ir sozinha mesmo. Às vezes, se separa.
Pensei. Isso aqui, nessa festa, não é coincidência. O descompasso entre homens e mulheres realmente aumenta quando a idade avança?
Falei com a antropóloga Mirian Goldenberg, que estará na Bienal do Rio, esta sexta-feira, às 19h, em debate sobre as mulheres depois dos 40. Mirian estuda, agora, as mulheres e homens de mais de 50 anos. Aí vão algumas de suas conclusões iniciais: Continua
Rezemos, pois.
Atipicamente.
09.09.2009
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Via Blog do Altino Machado
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