domingo, 27 de setembro de 2009

Professores do futuro são maus alunos de hoje

Via Gazeta do Povo - Por Ari Silveira - 25.09.2009


Dados do MEC mostram que é muito difícil atrair os melhores estudantes para a carreira docente no Brasil


Mulher, aluna sempre de escola pública, que tirou nota abaixo de 20 (numa escala de zero a 100) no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com renda familiar de até dois salários mínimos e cuja mãe nunca estudou – esse é o perfil dos participantes do Enem de 2007 que declararam a intenção de escolher o magistério como profissão. O levantamento, feito a partir de dados do exame e publicado no boletim Na Medida, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra que atrair os alunos de melhor desempenho para a carreira docente ainda é uma meta distante da realidade brasileira.
Dos jovens que fizeram a prova do Enem em 2007, apenas 5,2% optaram pela profissão de professor do ensino fundamental ou médio. Como 25% dos candidatos não haviam escolhido a profissão que pretendiam seguir, estima-se que a probabilidade de cada participante do exame escolher o magistério como profissão é de 6,69% – 7,21% entre as mulheres e 5,60% entre os homens.

Entre os alunos de escola pública, a probabilidade de lecionar na educação básica é de 7,27%, contra 4,57% dos alunos que estudaram parcialmente ou sempre em escola privada. Um candidato com renda familiar de até 2 salários mínimos tem 7,88% de chance de escolher o magistério, mais que o triplo de um aluno na faixa acima de 30 mínimos (2,56%). De acordo com a escolaridade da mãe, entre os filhos de mulheres que nunca estudaram, a probabilidade de ser professor é de 9,54%, contra 5,07% dos filhos de mulheres com curso superior. Continua




Via Veja - Edição 2132 - 30.09.2009

Um retrato da sala de aula

Carnoy: "Os professores devem ser treinados para ensinar – e não para difundir teorias genéricas"


Poucos especialistas observaram tão de perto o dia a dia em escolas brasileiras quanto o americano Martin Carnoy, 71 anos, doutor em economia pela Universidade de Chicago e professor na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, onde atualmente também comanda um centro voltado para pesquisas sobre educação. Em 2008, Carnoy veio ao Brasil, país que ele já perdeu as contas de quantas vezes visitou, para coordenar um estudo cujo propósito era entender, sob o ponto de vista do que se passa nas salas de aula, algumas das razões para o mau ensino brasileiro. Ele assistiu a aulas em dez escolas públicas no país, sistematicamente – e chegou até a filmá-las –, além de falar com professores, diretores e governantes. Em entrevista à editora Monica Weinberg, Martin Carnoy traçou um apurado cenário da educação no Brasil.

COMO NO SÉCULO XIX
Está claro que as escolas brasileiras – públicas e particulares – não oferecem grandes desafios intelectuais aos estudantes. No lugar disso, não é raro que eles passem até uma hora copiando uma lição da lousa, à moda antiga, como se estivessem num colégio do século XIX. Ao fazer medições sobre como o tempo de aula é administrado nos colégios que visitei, chamaram-me a atenção ainda a predominância do improviso por parte dos professores, os minutos preciosos que se esvaem com a indisciplina e a absurda quantidade de trabalhos em grupo. Eles consomem algo como 30% das aulas e simplesmente não funcionam. A razão é fácil de entender: só mesmo um professor muito bem qualificado é capaz de conferir eficiência ao trabalho em equipe ou a qualquer outra atividade que envolva o intelecto. E o Brasil não conta com esse time de professores de alto padrão. Ao contrário. O nível geral é muito baixo. Continua